FT-CI

Apontamentos militantes

A votação da Frente de Esquerda expressou tendências na classe operária e na juventude para a construção de um partido revolucionário

21/08/2011

1- A meados de maio, um mês depois de haver conformado a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, assinalamos em nossa coluna de “Apontamentos militantes” que se abria “Uma oportunidade para a organização política da vanguarda operária inédita há décadas”. A conquista de bancadas nas legislaturas provinciais de Neuquén e Córdoba, assim como os 520.000 votos obtidos nas prévias eleitorais, são a expressão “por cima” (superestrutural) de uma forte campanha militante que se desenvolveu nesses quatro meses “por baixo”, nos locais de trabalho e de estudo, que começou a cristalizar as tendências ã emergência de um partido de trabalhadores revolucionário. Estas tendências condensam diferentes processos : a) o desenvolvimento, durante quase todo o “ciclo kirchnerista”, de setores anti-burocráticos e anti-patronais no movimento operário, conhecidos como o “sindicalismo de base”, que agora sentem como próprio o triunfo da Frente de Esquerda ao derrotar a intenção de proscrição nas prévias eleitorais ; b) uma ampla esquerda estudantil, dentro da qual têm fortes influências as juventudes dos partidos que integramos a Frente de Esquerda, que avançamos uma dura luta política com as juventudes kirchneristas em torno ás eleições prévias, ficando as correntes da centro-esquerda “agrária” e “independentes” na defensiva, nas faculdades e colégios mais politizados ; c) por último, o que há de mais novo, o giro ã esquerda de um setor de intelectuais, docentes universitários e artistas sob o influxo da crise capitalista internacional, os processos revolucionários em outros continentes, as erupções direitistas do kirchnerismo (cadeia de assassinatos produto das bandas da burocracia ou da repressão policial ás lutas operárias e populares) e a debilidade da centro-esquerda. Estes processos se desenvolveram tortuosamente, submetidos ã pressão das ilusões reformistas de amplos setores de explorados e oprimidos do país. A força com que golpeia a crise capitalista a nível internacional não deixa dúvidas de que, cedo ou tarde, se terminará o “vento de cauda” em nosso país e as aspirações dos trabalhadores se chocarão com a dureza do ataque que promove o grande capital na maioria dos países “desenvolvidos”. Assim, os processos de radicalização política que hoje se mostram embrionários (ainda que significativos para os revolucionários) se massificarão e se aprofundarão.

2- O 50% de votação obtida por Christina Kirchner e o triunfo dos partidos “oficialistas” em quase todas as eleições provinciais, confirmam que não nos equivocamos em situar nossa campanha em um plano geral “defensivo” desde o ponto de vista das relações de forças entre as classes. Coerentes com isso, propusemos ás demais forças que integram a Frente de Esquerda colocar no centro de nossos spots de televisão e rádio a intenção de silenciar a esquerda (“exigem-nos 400.000 votos em agosto para podermos nos apresentar ás eleições de outubro”), articulando em torno desta denúncia as principais demandas de nosso programa (contra a super-exploração e as terceirizações, pelo salário igual ã cesta básica familiar, pelo 82% móvel aos aposentados contra o pagamento da dívida com o dinheiro do ANSES, que os legisladores ganhem a mesma quantia que um docente, contra o gatilho fácil policial e por Jorge Julio López, pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito). Por sua vez, ante a repressão selvagem em Jujuy, propusemos o único spot que falou do tema na campanha eleitoral (“Basta de repressão. Pelo direito ã habitação, ao trabalho e ao salário”). O acerto da campanha “defensiva”, principista e obrigatória para toda força de esquerda (o Projeto Sul pagou muito caro sua iniciativa de não denunciar a armadilha do regime), se expressou na repercussão de “massas” que tivemos, chegando a milhares de pessoas e impondo na agenda política nacional os aspectos proscritivos das eleições primárias.

3- Mas assinalávamos que toda boa defesa deve conter elementos de ataque : “A politização massiva que implicam as eleições gerais, a direitização do governo, a debilidade da oposição patronal e da centro-esquerda, e a novidade da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, permitem uma atitude ofensiva no terreno da luta política para conquistar em cada fábrica, cada empresa, bairro, colégio ou faculdade, uma camada de trabalhadores e estudantes que nos apóiem e ajudem a superar o piso proscritivo nas primárias de agosto e, se o conseguirmos, sejam parte em outubro da campanha da esquerda operária e socialista”. Nesse caminho, demos passos fundamentais, como se refletem nestas páginas de La Verdad Obrera, sobretudo na organização de verdadeiras redes operárias e populares : trabalhadores da indústria e do setor de serviços que estenderam o apoio ã FIT não somente em seus locais senão também em seus bairros, através de seus familiares, amigos e conhecidos. Milhares de companheiros e companheiras tomaram em suas mãos a campanha, utilizando a “popularidade” de nossa denúncia contra a intenção de proscrição, mas sendo muito claros que essa defesa era para “a esquerda dura”, que está sempre presente nas lutas contra a patronal, e enfrentada ã burocracia sindical vendida. No caso particular dos companheiros e companheiras independentes e do PTS que vem construindo uma corrente político-sindical em torno do periódico Nuestra Lucha (dirigentes e militantes de Zanon, Stefani e outros ceramistas ; de Kraft, PepsiCo, Stani e outras alimentícias ; do metrô, UTA e ferroviários ; de Donneley e outras gráficas ; de Alicorp/ex Jabón Federal e outras saboneteiras ; metalúrgicos, mecânicos, docentes, estatais, funcionários da saúde, papeleiros, do citrus, aeronáuticos, telefônicos, etc.) se jogaram ao debate diretamente político e “partidário” desde a esquerda classista, conseguindo uma simpatia e apoio “de massas” nos locais de trabalho onde temos responsabilidade sindical, não somente pelos referentes operários que foram candidatos pela Frente de Esquerda em distintas províncias, senão por uma militância operária diretamente política como não se via há décadas.

Ainda que as universidades se vissem atravessadas pelo recesso de inverno, também foram milhares os estudantes que apoiaram, e ali se organizou a assembléia de intelectuais, docentes e artistas em apoio ã Frente de Esquerda, cuja base foi a declaração com mais de 500 assinaturas. Estudantes secundaristas também tomaram como própria a campanha, destacando-se em Córdoba, Mendoza, e na Cidade de Buenos Aires. A juventude do PTS esteve na primeira fileira impulsionando todas estas iniciativas, assim como as companheiras e companheiros do Instituto do Pensamento Socialista “Karl Marx”.

4- Mas agora se nos apresenta um desafio tático que encerra um problema estratégico : encarar a luta por manter e superar a votação nas eleições de outubro, explorando toda possibilidade que se abra para conquistar deputados nacionais, mas enfrentando as pressões redobradas do regime democrático burguês para “integrar” e canalizar essas tendências operárias e estudantis potencialmente revolucionárias. Se quiseram – e não puderam – proscrever-nos , agora tentarão degradarmos para que sejamos a “pata esquerda” da “democracia” (burguesa). Para enfrentar essas pressões contamos a nosso favor com o caráter da Frente de Esquerda, que parte de uma clara defesa da independência política dos trabalhadores e levanta um programa de luta tendente ao governo dos trabalhadores e do socialismo, reforçado pela reivindicação como “guia para a ação” do marxismo revolucionário anti-stalinista e anti-socialdemocrata (“trotskista”) dos partidos que o integramos.

Neste sentido, como já assinalamos, há uma diferença qualitativa com as alianças frente-populistas que fez o MAS nos anos ’80 com o Partido Comunista, primeiro na Frente do Povo (’85) e logo depois na Esquerda Unida (de ’89 até o estouro do velho MAS). Nessa experiência também houve milhares de operários e estudantes que se reivindicavam de esquerda e podiam evoluir para a construção de um verdadeiro partido revolucionário, mas a direção do velho MAS impulsionou uma estratégia frente-populista e eleitoralista, que não somente consistiu na aliança eleitoral com o PC stalinista quando se via a queda do Muro de Berlim, senão da adoção do “lute e vote” como estratégia. Negavam-se a considerar a intervenção nas lutas político-econômicas dos trabalhadores (“lute”) e nas eleições (“vote”) como táticas a serviço de desenvolver as tendências progressivas do movimento operário enfrentando decididamente a burocracia, para recuperar os sindicatos e colocar de pé novas formas de coordenação para a luta, junto com impulsionar a independência política de todas as variantes de conciliação de classes, assim como as tendências na juventude à luta contra a impunidade dos genocidas e seus cúmplices. Rechaçavam promover o internacionalismo militante e a luta ideológica em defesa do marxismo, em momentos em que a burocracia stalinista na URSS e na Europa do Leste se passava com armas e bagagens para o campo da restauração capitalista. Em suma, não se propuseram encarar as tarefas de preparação consciente de um partido que, em perspectiva, se proponha dirigir as massas no caminho da “insurreição como arte” : a revolução socialista.

Hoje, o que sobrevive da (centro) esquerda reformista busca reagrupar-se como parte da Frente Ampla Progressista (De Gennaro e a CTA Micheli) e se preocupa pouco em conquistar influência na classe operária e na juventude. O PCR/CCC se lamenta da “ruptura” entre o FAP e o Projeto Sul e, sobretudo, de haver optado pelo apoio ao perdedor (ainda que na Província de Buenos Aires fizessem o insólito chamado a “cortar bilhete” unindo sua eterna aliada ruralista do GEN, Margarita Stolbizer, com o bilhete presidencial de Argumedo-Cardelli). Esta debilidade da esquerda reformista se transforma em uma vantagem para os que lutamos para colocar de pé um verdadeiro partido revolucionário, ã condição de combater conscientemente toda adaptação ao regime e a seus “espaços”.

Como dizíamos na nota citada : “Claro que um posicionamento eleitoral é somente uma expressão elementar de consciência política, mas como ‘agregação molecular de forças’ (Engels) pode indicar se a esquerda classista ganha terreno na vanguarda operária e da juventude. Conquistar essa “porção de território ao inimigo” é o desafio que nos propomos nestes meses. Isto não “suspende”, pelo contrário, pressupõe, o esclarecimento fraterno das diferenças de programa e prática política (um aspecto essencial da estratégia, ou seja, o como levar adiante a luta pelo programa) entre os integrantes da Frente de Esquerda, sem que isto se constitua em um obstáculo para dar a batalha em comum contra o governo, a oposição patronal e a centro-esquerda.

18/08/2011

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