Praça da Sé - SP - Primeiro de Maio
Bloco "Somos Todos José Ferreira da Silva" reúne 300 participantes
02/05/2011
Em mais um 1° de maio em que as grandes centrais sindicais fizeram mega-shows com distribuição de prêmios, realizou-se um ato na Praça da Sé com o PSTU, PSOL, PCB, MTST e outras organizações e movimentos populares. Apesar de chamado como um ato combativo e classista, uma vez mais reinava a apatia. Mesmo depois das lutas em diversos canteiros de obras, de terceirizados em vários locais do país, da ameaça de 6 mil na grande obra do PAC em Jirau após a rebelião dos trabalhadores na mesma, as falas de dezenas de representantes das correntes e dos sindicatos que abordavam desde os acordos eleitorais nas eleições sindicais até homenagens abstratas ao socialismo e shows de música, que cumprem o papel de tentar dar algum entusiasmo aos presentes que, em sua maioria, vão ali como uma atividade rotineira do “calendário de luta”. Tudo isso depois de uma missa, que uma vez mais é convocada por todas as organizações, inclusive as que se reivindicam revolucionárias.
Mas a dinâmica do ato se rompeu por dois acontecimentos. Um deles foi a repressão policial completamente gratuita a alguns manifestantes no final da marcha com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, para deter um manifestante que, segundo a PM, teria “desacatado” os policiais com uma camiseta, e para levá-lo detido, utilizaram-se da truculência típica da polícia, avançando inclusive contra o Bloco Somos Todos José Ferreira da Silva, que foi o outro elemento que rompeu a dinâmica rotineira do ato.
Este bloco foi organizado a partir de um chamado das terceirizadas e terceirizados da União, que vem protagonizando uma heróica luta na USP, na qual arrancaram da reitoria o pagamento dos salários atrasados e direitos a partir de terem aberto uma verdadeira crise política na universidade e contagiado centenas e centenas de estudantes, juristas e professores com sua luta e organização, onde o Sintusp cumpriu um papel essencial pois seu sindicato, o SIEMACO, são de burocratas sindicais vendidos que atuam a serviço da patronal, e avançaram não somente na consciência da necessidade de lutar pela efetivação sem concurso público, mas da necessidade de sair ás ruas no 1° de maio para levantar suas bandeiras para a classe trabalhadora de todo o país, e homenagear o companheiro José Ferreira da Silva, terceirizado que morreu recentemente na USP na Faculdade de Medicina da USP enquanto limpava vidros. A reitoria simplesmente se calou e a empresa continua completamente impune, mesmo tendo sido mais uma das tantas mortes em todo o país pelas terríveis condições de trabalho que são obrigados a ter os setores mais explorados da classe. Essa homenagem foi só uma primeira demonstração de que não vamos deixar passar mais esta morte impunemente.
Longe de uma votação formal, como tanto se faz na esquerda brasileira, a assembléia dos terceirizados, que são o organismo máximo de democracia direta dos trabalhadores, votou a ida no 1° de maio como uma tarefa de primeira ordem e estiveram presentes massivamente, com mais de 100 companheiras e companheiros terceirizados, sendo a única delegação expressiva de trabalhadores em luta neste momento claramente organizada na Praça da Sé. O que diz mais do que mil palavras sobre o ato da Praça da Sé, é o fato de que estas trabalhadoras e trabalhadores não puderam dar sequer uma saudação entre as dezenas de falas de todos os aparatos no palco do “1° de maio de luta”.
Mas o Bloco Somos Todos José Ferreira fez o seu papel com uma enorme combatividade, vivacidade e politização. Nós da LER-QI nos somamos ao chamado dos terceirizados, assim como o Sintusp e o Comitê de Luta Contra a Terceirização e pela Efetivação dos Terceirizados na USP, compondo um bloco com 300 pessoas. Desde a concentração a emoção já tomou conta do bloco. Depois de agitarmos nossas músicas (leia abaixo), com a chegada dos ônibus da delegação de terceirizados, começamos nosso ato com um depoimento de familiares de José Ferreira da Silva (ver vídeos em breve no site da LER-QI) que, profundamente emocionados, disseram que aquela homenagem confortava um pouco o enorme sofrimento que estão passando. Todos juntos gritamos: José Ferreira! Presente! E afirmamos uma vez mais que este era só um passo importante na luta pela punição dos responsáveis. Logo depois, o jurista professor da Faculdade de Direito da USP, Jorge Luiz Souto Maior, que apoiou enormemente a luta dos terceirizados, como parte do combate que já vem travando a anos contra os males da terceirização, leu uma saudação ao ato.
Depois de enfrentar a repressão quando estávamos chegando ã Praça, que atacou inclusive mulheres grávidas e provocou um desmaio de uma terceirizada, reorganizamos o bloco e fomos até a Praça da Sé, onde levamos as nossas bandeiras, cantos e demandas, apesar de não termos conseguido falar no palco. Depois, marchamos até o Largo São Francisco e fizemos o encerramento do ato, com falas das terceirizadas Conceição e Glória, e de Caio, estudante do comitê.
Depois disso, falaram André Bof, pela juventude da LER-QI colocando qual é para nós o significado do processo de luta dos terceirizados, da aliança operário-estudantil, da necessidade de levantarmos a luta por demandas democráticas, contra a repressão, contra a homofobia e chamou os estudantes ali presentes a, juntamente conosco, impulsionar uma grande juventude revolucionária.
Pablito, diretor do Sintusp e dirigente da LER-QI, fez uma fala colocando o caráter estratégico do combate ã terceirização, abordando o problema do trabalho precário como parte estrutural do tão propagado Brasil potência. Colocou como este bloco luta contra as demissões em Jirau, contra a militarização e a polícia nos canteiros de obras, contra o trabalho precário e efetivação dos terceirizados. Concluiu afirmando o papel da luta contra a repressão de ontem e hoje, pelo fim da lei da anistia e punição de todos torturados, assassinos e seus colaboradores, e fez homenagens a vários símbolos da nossa luta de ontem e hoje (ver abaixo).
Simone Ishibashi, socióloga e dirigente da LER-QI, fechou o ato colocando como o significado para nós da unidade da classe trabalhadora extrapola a questão da unidade entre efetivos e terceirizados, chegando ã necessidade da unidade da classe trabalhadora de todos os países. Colocou como a primavera árabe está colocando novamente em cena a luta de classes, saudando as lutas que estão sendo protagonizadas em diversos países contra as ditaduras, mas colocando a necessidade de expulsar o imperialismo e a OTAN da região, em particular da Líbia, defendendo a necessidade da derrubada revolucionária de Kadafi pelas mãos dos trabalhadores.
Saudações ao Bloco José Ferreira no 1° de Maio de 2011
De Andrés Padellaro, ex tercerizado do setor de limpeza dos ferroviários em Buenos Aires, na Argentina, representando a agrupação Bordó de ferroviários efetivos e terceirizados
As companheiras e companheiros da USP e a todos os trabalhadores brasileiros em nosso dia, o 1° de maio
Este é o primeiro aniversário do dia internacional dos trabalhadores que viveremos como trabalhadores efetivos. Depois de meses de organização e de luta, hoje podemos dizer aos operários terceirizados ferroviários de Roca, na Argentina, demos um grande golpe contra a terceirização. Essa herança nefasta que sofremos e que padecem milhões de trabalhadores em todo o mundo. Com grande alegria, ficamos sabendo da luta das companheiras e companheiros que se encarregam de algo tão fundamental como é a limpeza, na Universidade de São Paulo. Recebemos diferentes notícias da “rebelião das vassouras”, e não queríamos deixar passar a oportunidade de mandar uma saudação para vocês neste 1° de maio. Não só para dar força para que sigam nesta luta, que depois de vocês terem conquistado o pagamento dos salários e direitos agora tem condições de avançar para a efetivação, mas também porque acreditamos firmemente que nós trabalhadores de todos os países temos que lutar juntos, e ajudar-nos mutuamente contra os empresários e os governos que nos exploram em todo o mundo. Envio então uma saudação, como um dos mais de 1500 trabalhadores terceirizados que, depois de lutar duramente conquistou a efetivação. Junto a meus companheiros, nos colocamos ã disposição do que necessitem, levantando neste dia internacional dos trabalhadores a bandeira da unidade de todos os trabalhadores do mundo. Força companheiras! Viva a luta internacional dos trabalhadores!
Ricardo Antunes – professor da Unicamp
"A terceirização reduz os salários, quebra direitos, fratura os trabalhadores e as trabalhadoras, aumentando ainda mais os perversos níveis de precarização e o flagelo do trabalho. A quem isso interessa? Certamente, não ás forças sociais do trabalho. Assim, lutar contra a terceirização é um embate vital em nossos dias."
Homenagens: Companheiros e Companheiras, Presente!
José Ferreira da Silva, presente! – trabalhador terceirizado da USP que morreu trabalhando no regime de semi-escravidão imposto na USP
Konstantina Kuneva, presente! – terceirizada grega da limpeza que dirigiu um processo de luta e sofreu atentado da patronal com ácido sulfúrico
Mariano Ferreyra, presente! – militante trotskista do Partido Obrero Argentino assassinado pela burocracia sindical na luta pela efetivação dos ferroviários tercerizados
Cícera, presente! – terceirizada morta pela polícia na favela São Remo ao lado da USP
Marcelo Campos, presente! - jovem negro e homosexual espancado até morrer em junho de 2009 por um grupo de extrema direita na Parada Gay
Camille Gerin, presente! – travesti de Campinas espancada até a morte em agosto de 2010 por um grupo de extrema direita
Milhares de mulheres mortas por aborto clandestino, presente!
Olavo Hansen, presente! – militante trotskista, operário da indústria química, preso, torturado e assassinado pela ditadura brasileira em 1970
Centenas de mortos por lutar contra as ditaduras sangrentas no mundo árabe, presente!