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Brasil: III Congresso do PT

Demagogia “socialista” para esconder crise com sua base social

28/09/2007

No dia 2 de setembro o PT encerrou seu III Congresso. Segundo Jorge Viana, ex-governador do Acre pelo PT, o desafio deste congresso era “fazer o PT se reencontrar com a sua história e com o povo brasileiro”. Esse é um reconhecimento de que depois de chegar ao governo federal e ter sido apanhado no maior escândalo de corrupção da história do país, o PT se distancia de sua base social histórica.

Se tornando o principal partido do governo, com milhares de funcionários no Estado, fazendo todo tipo de negociatas obscuras para aprovar no parlamento as leis antipopulares do governo Lula, o PT deixou de ser um partido que se apoiava no ativismo operário, estudantil e popular. Uma nova mostra disso foi o escandaloso papel do PT e de Lula na recente absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros, desnudando a rede de corrupção que envolve o governo.

Até 2002, o PT era um partido operário-burguês, no sentido de que se apoiava numa base operária, porém na prática aplicava uma política pró-burguesa, buscando se aliar aos setores burgueses não monopólicos insatisfeitos com o neoliberalismo. Agora, cada vez mais, o PT se torna mais burguês e menos operário. Isso atrasa e dificulta no imediato qualquer mobilização, mas deixa um enorme espaço para que no futuro processos de luta de classes permitam surgir um novo movimento operário que tire as lições do que foi sua experiência com seu partido, avançando para o classismo e rompendo com a política de conciliação de classes que marca a estratégia petista desde a fundação do PT.

De alguma forma, o III Congresso tentou dar uma resposta a esta situação, isto é, ao vazio que o PT deixa com seu deslocamento ã direita. Por isso, buscou pronunciamentos de esquerda. Todas as teses, inclusive a do campo majoritário, estiveram marcadas pela discussão sobre o “socialismo petista”, que segundo a resolução do Congresso, não só deve ser “democrático”, como “ecologicamente sustentável”. O PT aderiu ao plebiscito pela anulação do leilào da Vale do Rio Doce para reatar os laços com o MST que ao não ver nada de reforma agrária neste governo está pressionado pelas bases num sentido crítico. Aprovou uma resolução pela descriminalização do aborto, se colocando nesse ponto ã esquerda de Heloísa Helena do PSOL, criticou a relação do governo com os militares e exigiu a abertura dos arquivos da ditadura militar e a “democratização” do exército, flertando com a esquerda, os movimentos sociais e setores da intelectualidade. Uma das resoluções mais significativas, para “cobrir” esse vazio ã esquerda, foi a de Assembléia Constituinte Exclusiva para fazer a reforma política. No entanto, mais do que uma mudança profunda capaz de alterar o curso seguido pelo PT nos últimos anos, essas resoluções anunciam o início da corrida para as eleições presidenciais de 2010, e uma tentativa das correntes petistas de se relocalizar para impor um candidato petista aos partidos que apóiam o governo Lula e querem um candidato do bloco governista, rompendo a hegemonia do PT.

Apesar do discurso do presidente do PT Ricardo Berzoini, segundo o qual o principal ganho do Congresso foi a unidade e a coesão partidárias, ficou impossível esconder as divisões internas no partido, o que obrigou a maioria a aceitar um congresso de amálgamas, tentando agradar “gregos e troianos”. Por exemplo, a resolução sobre o plebiscito da Vale foi votada contra a posição da direção majoritária, que retirou sua proposta contrária para não ser derrotada no plenário. A principal resolução do Congresso, sobre as eleições presidenciais, foi uma fórmula de compromisso entre a máquina petista interessada em ter um candidato próprio e a cúpula mais ligada a Lula, que quer ter as mãos livres para possíveis acordos com os partidos aliados, em especial o PMDB. A resolução trata ao mesmo tempo de apresentar uma candidatura própria, e que essa deve ser construída em conjunto com os outros partidos.

O discurso do presidente Lula, no segundo dia de Congresso, tentou agradar a todos no PT. Deu sinais ã ala de José Dirceu e dos petistas que haviam acabado de se tornar réus no julgamento do mensalào, ao dizer que “nenhum petista deve ter vergonha de defender os seus companheiros”, mas também acenou para a ala de Tarso Genro e das correntes de esquerda, admitindo que o PT “cometeu erros”. Mas a definição mais importante do seu discurso, a que diz mais sobre o que é o PT agora e sobre o que é o seu governo, que segue a obra de FHC, é a de que “Ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que nosso partido. Admitimos que tem gente igual a nós, mas não admitimos que tenha melhor”. Exatamente isso: o PT não é nem melhor nem pior que o PMDB, PSDB ou DEM (ex-PFL). Igual que o governo de FHC, o governo de Lula e do PT ataca os trabalhadores e o povo pobre para aumentar os lucros da burguesia e do imperialismo, avança nas medidas de privatização, destrói a saúde pública, sucateia as universidades federais e favorece as particulares, paga em dia os juros para o mercado financeiro nacional e internacional, e um longo etc.

Contra esse governo antipopular e antioperário, e contra a demagogia de Lula e do PT, que ao invés de minorar as mazelas capitalistas aprofundou a exploração e os ataques ã classe trabalhadora, trata-se de retomar as bandeiras levantadas pelos metalúrgicos de Santo André, em 1979, levando essas discussões para as bases para lançar-se no trabalho da construção de um partido político dos trabalhadores, independente da burguesia e seu Estado, rompendo definitivamente com o petismo e o lulismo, preparando a classe trabalhadora para tomar o poder e transformar radicalmente esta sociedade que só nos reserva mais catástrofes sociais em nome do lucro.

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