FT-CI

A economia brasileira e a crise financeira internacional

Absoluta normalidade?

21/08/2007

Enquanto a crise financeira iniciada no mercado imobiliário norte-americano se estende, obrigando os BC’s da Europa a liberar seus recursos para garantir liquidez, o presidente do Banco Central brasileiro Henrique Meirelles se apressou em garantir que esta crise não afetaria o país, pois a economia brasileira estaria “muito mais fortalecida” e passando por um período de “absoluta normalidade”. Os analistas burgueses brasileiros também fizeram coro no discurso de “tranqüilidade” assegurada. Usam como argumento as reservas de dólares acumuladas pelo país no último período, que batem a casa de US$ 150 bilhões, além do câmbio flutuante o que permitiria ajustes no valor do real em relação ao dólar, se a crise norte-americana se estender a economia brasileira como sua dependente pode sofrer golpes. Um elemento chave diz respeito ã possibilidade de uma queda nas taxas de consumo da população norte-americana, pois se esta passar a ter mais dificuldades para se endividar ã partir da restrição á concessão de crédito e financiamentos a demanda por produtos de diversos tipos e, sobretudo de bens duráveis com valor agregado poderá cair.

O problema é que hoje os EUA importam um volume bastante alto deste tipo de bens da China. Isso levaria a China a ter que reduzir sua produção, para evitar assim uma crise de superprodução, já que não teria a quem vender, por um lado, e por outro seria uma pressão para a queda do preço de diversos produtos no mercado mundial. Num plano mais em médio prazo isso poderia afetar a economia brasileira que, diga-se de passagem, tem crescido inclusive abaixo da média latino-americana com uma média que não ultrapassa os 4% ao ano, índice mantido ás custas da alta valorização das chamadas commodities, que são produtos básicos e de amplo consumo tais como a soja e o petróleo, cujos preços são definidos internacionalmente. Se a crise norte-americana provocar uma queda no volume de exportações que o imperialismo realiza com a China, é provável que a demanda de exportações de commodities brasileiras por parte daquele país caia, o que abalaria um dos pilares da economia brasileira hoje.

Isso significaria, como sempre no capitalismo, que os patrões tentariam descarregar a crise nas costas dos trabalhadores, gerando desemprego e mais miséria. Este elemento ainda que não esteja colocado no plano imediato, é importante porque demonstra que a internacionalização da economia, hoje uma realidade inquestionável, leva a que uma crise de proporções nos EUA, principal imperialismo que mantém esta posição exportando suas crises, traria reflexos a todo o mundo, e que o atual crescimento das economias latino-americanas estão longe de serem independentes, pelo contrário se dão no marco de uma brutal dependência em relação ao imperialismo e a outros países como a própria China. Assim, o discurso de Lula de que “isso é problema dos Estados Unidos e dos bancos americanos", não convence sequer membros de seu próprio governo, já que o próprio ministro da fazenda Guido Mantega teve que admitir que se a crise persistir o “valor das commodities poderia cair”.

Por outro lado, há que ressaltar que um dos recursos que tranqüiliza a burguesia neste momento é o de uma possível intervenção no real, que segue muito valorizado, como medida para fazer frente ás oscilações da moeda norte-americana. O que eles não dizem é que esta medida seria uma nova via para descarregar nas costas dos trabalhadores e das massas a crise econômica, pois no caso de uma desvalorização do real diminuiria o poder de compra dos salários, retirando destes a diferença gerada pelos desequilíbrios gerados pela anarquia capitalista. No caso de uma valorização como a que se deu no dia 16 de agosto, tendência que se mantém na visão de uma série de analistas burgueses, com o dólar batendo a marca de mais de R$ 2,00 e acumulando uma valorização de cerca de 7,80% neste mês e 15,1% desde o dia 23 de julho quando se deram os primeiros sinais de turbulência, fato inédito em muito tempo cujo resultado pode ser um aumento da inflação e encarecimento das importações, prejudicando os níveis de consumo em especial das classes médias.

No plano imediato, junto com a valorização do dólar, o mercado financeiro brasileiro também acumulou perdas e sofreu instabilidade, com a queda de 3,19%, totalizando uma perda de US$ 1,264 bilhão em investimento de capital estrangeiro. Isso ocorre porque estes investidores, que muitas vezes especulam com créditos baratos conseguidos no mercado internacional, temendo a conseqüência da crise retiram seus investimentos mais arriscados, como é o caso da maioria dos papéis das semicolonias. Assim, os investidores retiram seus ativos aplicados aqui para elevar sua liquidez e se minimizar perdas frente ã crise, cobrindo suas posições no mercado internacional. Isso mostra que a economia, que se por um lado não acumulou altos índices de crescimento se comparado aos outros países latino-americanos, por outro foi um elemento de estabilidade para a situação, passa por um momento de inflexão.

Completa o cenário o fato de que se a crise norte-americana se estende não podemos descartar também que se reduza a concessão de crédito, que no último período também aumentou no Brasil, sendo também uma importante via para manter os índices da economia atuais. Isto poderia levar a uma queda no consumo de bens duráveis.
Apesar de acharmos que seria um erro recair em uma visão catastrofista, há que dizer que a “calma” dos analistas burgueses reside em grande parte em medidas econômicas pensadas para descarregar possíveis crises nas costas de trabalhadores e das massas, por um lado, e por outro numa tentativa de colocar a situação econômica do país como estável do que poderia, minimizando o caráter dependente da semicolonia. É contra isso que reafirmamos que a classe operária é a única que pode dar um fim ã anarquia capitalista e suas crises.

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