FT-CI

QUEDA DE YANUKOVICH NA UCRÂNIA

Aonde vai a Ucrânia?

01/03/2014

Aonde vai a Ucrânia?

Depois de semanas com violentos enfrentamentos, que deixaram um saldo de quase 100 mortos, entre eles vários policiais, a 23 de fevereiro o parlamento ucraniano destituiu o presidente Víctor Yanukovich, nomeou Alexandr Turchinov (do principal partido opositor liberal) como presidente provisório, e chamou a eleições antecipadas para o dia 25 de maio.

O processo que levou ã queda do governo estourou em novembro do ano passado, quando o então primeiro ministro da Ucrânia anunciou que não assinaria o acordo de Associação com a União Européia, um tratado de livre comércio que o próprio governo vinha negociando há anos. Yanukovich voltou a sua aliança tradicional com a Rússia, aparentemente por uma combinação de pressão e oferta de dinheiro fresco por parte de Moscou e rebaixamentos no preço do gás para que a Ucrânia se integrasse ã União Aduaneira Euroasiática, um bloco comercial dominado pela Rússia, do qual formam parte a Bielorrússia e o Cazaquistão. Este anúncio disparou uma onda de mobilizações, fundamentalmente de setores das classes médias, com um programa pró União Europeia e uma direção reacionária, formada por uma aliança entre as forças políticas liberais e os partidos nacionalistas da extrema direita, cujo emblema foi a ocupação durante três meses da praça Maidán (praça da Independência) na capital, Kiev. Depois de tentar diversas vias para desmontar as manifestações, como a votação de leis que restringiam o direito de mobilização, Yanukovich decidiu romper o impasse com uma violenta repressão que terminou precipitando sua queda.

Ainda que as potências ocidentais que mediaram na crise tenham auspiciado uma trégua entre Yanukovich e a oposição, que entre outras coisas previa que este permanecesse em seu cargo até dezembro, ante os fatos consumados rapidamente saudaram esta saída e já estão na Ucrânia negociando com o novo governo provisório as condições para eventuais “ajudas” financeiras do FMI ou a União Europeia em troca de futuras “reformas” econômicas, ou seja, mais ajustes. Como fizeram há uma década, durante a chamada “revolução laranja” que substituiu o governo pró-russo (também encarnado por Yanukovich) por outro mais afim aos interesses imperialistas, Berlim, Washington e Bruxelas viram a oportunidade de operar na crise interna para implementar uma “mudança de regime” e, em sua batalha geopolítica, avançar em atrair a sua órbita países da ex-União Soviética, que tradicionalmente estiveram sob influência russa – seja via acordos comerciais ou militares, como a integração ã OTAN. Dificilmente Putin se resignará a perder posições estratégicas como a Ucrânia, considerada vital para seus interesses, ademais de alojar a principal frota russa no Mar Negro.

A crise está longe de haver-se resolvido, já que tem suas raízes em questões estruturais, como a profunda fratura econômica e cultural do país entre o leste industrial, ligado ã Rússia, e o oeste nacionalista e pró-ocidental, o que alguns analistas já consideram que pode levar ao separatismo, por exemplo, da península da Crimeia, de maioria russa.

Para além do caráter das mobilizações, o que a crise pôs a descoberto é que os governos dominados por oligarcas (os novos burgueses que ficaram com as principais empresas com a restauração capitalista), sejam pró-russos ou pró-ocidentais, levaram o país ã ruína. Segundo dados do Banco Mundial, o PIB per capita ainda está abaixo de seu nível de 1989 e em média corresponde a 10% do PIB da UE. A situação piorou com a crise capitalista que diminuiu a demanda de aço, a principal exportação ucraniana, e desde 2009 a economia oscila entre a recessão e a recuperação anêmica. Segundo a União Europeia, necessitaria como mínimo um empréstimo de 35 bilhões de dólares imediatamente. O novo governo será encarregado de fazer com que, como na Grécia e no Estado Espanhol, sejam os trabalhadores e setores populares os que pagarão por esta “ajuda” com ajustes, desvalorização e quitação de subsídios ao consumo popular, o que augura mais crises e convulsões sociais.

Dois campos reacionários

As mobilizações da praça Maidán, ainda que se dirigissem contra um governo corrupto, repressor e defensor dos interesses de um setor dos oligarcas, por sua base social, seu programa e as direções que se puseram ã cabeça, não representam uma saída operária e popular para a crise ucraniana. Apesar de que o pano de fundo das manifestações seja o descontentamento produto da deterioração das condições de vida, as mobilizações tiveram seu epicentro em Kiev e no setor ocidental do país, enquanto que o leste, onde está concentrada a classe operária industrial, praticamente não participou.

As ilusões na integração ã União Europeia, apesar de que a UE venha aplicando brutais planos de ajuste para descarregar a crise sobre os trabalhadores, levaram a levantar um programa coincidente com os partidos oligarcas proimperialistas, como o partido Pátria de Yulia Timoshenko, e com a extrema direita nacionalista anti-russa, os principais referentes da oposição e interlocutores de Merkel e Obama. As milícias de autodefesa da praça Maidán estiveram formadas fundamentalmente por grupos de choque de reconhecidos partidos neonazistas agrupados no chamado Setor de Direita (Pravy Sektor). Estas direções, a serviço dos interesses das classes dominantes, imprimiram seu selo ao movimento.

Por isto, apesar de que o governo tenha caído, o resultado, longe de ser uma “vitória democrática” para as massas, como diz por exemplo a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT, cujo principal partido é o PSTU do Brasil), é uma mudança de camarilha capitalista por outra. O governo que assuma terá como tarefa aplicar os planos que exigem os representantes da UE e do FMI, enquanto que os oligarcas seguirão fazendo seus negócios. A extrema direita nacionalista aguça o ódio anti-russo a serviço desta mesma política pró-imperialista. A classe operária não pode enfrentar estes planos subordinada ao campo de Yanukovich e da Rússia, que já demonstrou que defende os interesses daqueles que enriqueceram saqueando a propriedade estatal. A única saída progressiva ã crise é que a classe operária levante um programa independente dos dois campos burgueses em disputa, que defenda expropriar os oligarcas pró-ocidentais ou pró-russos, nacionalizar os bancos, expulsar o imperialismo e lutar por um governo operário e popular.

------------------------------------------------------------------------------------

Chaves

Partido das Regiões: partido do ex-presidente Víctor Yanukovich, sua principal base eleitoral está no leste e no sul, regiões russoparlantes.

Pátria: partido neoliberal, o mais importante da oposição pró-ocidental (tem 25% do parlamento). Sua principal figura é Yulia Timoshenko, que fez fortuna ficando com a companhia de distribuição de gás depois da queda do regime stalinista. Foi condenada em 2011 por corrupção e liberada a 22 de fevereiro de 2014.

Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma: partido de orientação similar a Pátria, dirigido Vitali Klitschko, famoso por ser um ex-campeão de boxe. Tem ao redor de 15% do parlamento.

Svoboda (Liberdade): partido nacionalista de extrema direita dirigido por Oleg Tiahnibok. Entrou no parlamento em 2012.

Pravy Sektor (Setor de Direita): rede de organizações de extrema direita que protagonizaram os enfrentamentos na praça Maidán, são anti-russos mas também estão contra a UE.

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Periodicos

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)