Frente ã nova posição da LIT e do PSTU
Reiteramos nosso chamado
15/07/2007
Frente ã nova posição da LIT e do PSTU
Reiteramos nosso chamado de impulsionar uma campanha em frente-única para desmascarar Chávez
Desde a realização da IV Conferência Internacional da Fração Trotskista - Quarta Internacional, em fevereiro deste ano fizemos um chamado direcionado ás organizações internacionais que se reivindicam trotskistas, que mantinham naquele momento uma posição independente em relação a Chávez, para impulsionar uma campanha comum com três eixos fundamentais: 1) contra as falsas nacionalizações de Chavez, lutar pela nacionalização sem indenização de todas as indústrias estratégicas, sob controle e gestão operária; 2) lutar por um partido operário independente para que a classe operária comece a ter influência na vida política nacional contra todas as variantes do reformismo e do nacionalismo burguês; 3) a perspectiva de um governo operário, camponês e do povo pobre como única via real para dar passos ã resolução das principais demandas operárias, camponesas e populares, contra toda a enganação do “socialismo do século XXI ”.
Este chamado partia da importância da tarefa que têm os revolucionários em combater as ilusões dos trabalhadores e das massas latino-americanas em torno destas novas mediações surgidas no continente após o desgate da ofensiva neoliberal que caraterizou a situação existente durante a década de 90, da qual Chávez é a maior expressão. Com um projeto desenvolvimentista burguês moderado, inferior até mesmo se comparado a outros governos burgueses anteriores como Perón e Cárdenas, Chávez busca garantir a continuidade da exploração capitalista sobre a classe trabalhadora e as massas venezuelanas, enquanto avança em medidas bonapartistas para consolidar sua dominação. É neste marco que se localizam a formação do PSUV, a ofensiva de Chávez para tentar controlar os sindicatos, as reformas na constituição que visam garantir a sua manutenção no poder, e recentemente o fechamento da RCTV.
Sobre esta última medida nós, que integramos a FT-QI da qual faz parte a LER-QI no Brasil, desde o início denunciamos seu caráter bonapartista , resgatando Trotsky quando afirmava que: “Tanto a experiência histórica como teórica provam que qualquer restrição da democracia na sociedade burguesa é, em última análise, invariavelmente dirigida contra o proletariado, assim como qualquer imposto que se crie pesa sobre os ombros da classe operária. A democracia burguesa é útil para o proletariado apenas enquanto lhe abre o caminho ao desenvolvimento da luta de classes. Conseqüentemente, qualquer ‘dirigente’ da classe operária que propicia ao governo burguês meios especiais para controlar a opinião pública em geral e a imprensa em particular é, justamente, um traidor ”.
Assim, colocamos uma posição principista frente a esta medida, que amplos setores da esquerda passaram a apoiar, como se fosse uma medida progressiva, semeando a confusão e aprofundando a ilusão da classe trabalhadora e das massas em Chávez. Contra esta posição equivocada, desde o princípio defendemos a necessidade da classe operária de ter uma política independente, pois é apenas esta, lançando mão de seus métodos de luta, que pode superar os limites da liberdade de expressão burguesa, travando uma luta contra o monopólio imposto pelos magnatas da imprensa e as restrições do governo, a exemplo do que fizeram os trabalhadores mexicanos na Comuna de Oaxaca, quando colocaram os meios de comunicação a serviço de suas lutas. Ou ainda, como fazem hoje os trabalhadores do Sutep, que tomaram de assalto as cabines de transmissão de quinze emissoras de rádio em Cusco, no Peru, para difundir sua pauta de reivindicações, em rechaço ã privatização da educação. Esta ação dos trabalhadores permite explicar em forma mais concreta a diferença entre as medidas contra a imprensa tomadas pela burguesia, e seus governantes, e as que são levadas ã frente pela classe operária com seus próprios métodos de luta.
Lamentavelmente, a direção do PSTU não respondeu nossa primeira proposta de campanha conjunta para contrapor com a maior força possível a influência do chavismo na vanguarda operária e popular em nosso continente. Agora, em sua declaração intitulada Sobre o fechamento da RCTV na Venezuela a LIT chama a esquerda a se pronunciar em forma principista ao final. Os companheiros devem saber que nossa organização internacional vem se posicionando de forma principista desde o início, inclusive quando o PSTU tinha inicialmente uma posição ambígua, como a sustentada em seu site através de uma nota em que afirmava que “se Lula resolvesse retirar a concessão do malufista Silvio Santos [...] seria uma medida importante que deveria ser aplaudida”, mas faltaria “acabar também com o sinal da Rede Globo ”, ou de apoio aberto ã posição de Chávez por Valério Arcary expressado em atividade realizada na ocupação da USP, com a qual discutimos na edição de junho de nosso Jornal Palavra Operária.
Porém, a nova posição expressada pela LIT em sua declaração intitulada Sobre o fechamento da RCTV na Venezuela , e aos últimos artigos do PSTU que tratam do tema, serve de base para propomos num primeiro plano uma campanha que resgate os três eixos que nortearam o chamado feito por nossa organização internacional, nomeados no início desta carta. Ou, como mínimo, uma campanha em nível nacional sobre a questão da RCTV que seja tomada em comum pelos companheiros do PSTU. Isso teria uma grande valia na luta para desmascarar o chavismo, cuja retórica tem repercutido para além das fronteiras venezuelanas, refletindo-se na simpatia de importantes camadas das massas em todo o continente e mesmo em adesão ao seu projeto. Esta tarefa assume ainda mais importância frente ã constatação de que uma ampla gama das organizações de esquerda em escala internacional se rende ao nacionalismo burguês de Chávez. Mais ainda quando os stalinistas, de acordo com sua tradição, se adiantam para atacar as posições de independência de classe e defender o governo burguês de Chávez, como o faz Altamiro Borges em seu texto PSTU lamenta pela RCTV venezuelana. Enquanto isso, o PSOL aprova como resolução de seu I Congresso apoio a Chávez e ã ALBA.
É por isso que insistimos no chamado aos companheiros para atuarmos no sentido de forjar setores de trabalhadores e da juventude de acordo com os princípios de independência de classe, oferecendo uma resposta a estas repetições do velho reformismo crescentemente desprovidos de reformas, de modo a responder ás questões candentes de nossa época. Propomos impulsionar esta campanha nos sindicatos da Conlutas, em todas as estruturas onde estamos e nas universidades, onde poderemos impulsionar debates e atividades, para educar uma vanguarda de trabalhadores e da juventude resgatando a luta por uma política independente da classe operária e pelo internacionalismo proletário.
Fraternalmente
Direção da LER-QI
São Paulo, 15 de julho de 2007.
LEIA TAMBÉM
Chamado internacionalista: A tarefa da esquerda diante do projeto de Chavez
Caso RCTV: PSTU se alinha com Chavez.. e fica contra Trotsky
– Notas
[1] Chamado a uma Campanha Internacionalista - www.ler-qi.org
[2] Declaração Diante da medida de Chávez contra a RCTV e as mobilizações da reação interna pró-imperialista de 31 de maio de 2007 - www.ler-qi.org
[3] Liberdade de imprensa e a classe operária, Leon Trotsky
[4] O que há por trás da suspensão da RCTV na Venezuela, Jornal Opinião Socialista, n° 300.
[5] www.pstu.org.br