FT-CI

Declaração da Fração Trotskista - Quarta Internacional

Detenhamos a brutal agressão de Israel contra o povo palestino

14/07/2006

Há uma semana o Estado de Israel tem impulsionado a ofensiva militar na Palestina. No decorrer dos últimos dias, o primeiro ministro Olmert declarou que pretende continuar e ampliar a sua ofensiva. Na última quarta-feira, cerca de 5/7 tropas israelenses instalaram-se no norte de Gaza e bombardearam o Ministério do Interior palestino. Ao mesmo tempo se mantém fechada a passagem fronteiriça de Erez, provocando o isolamento de quase um milhão e meio de palestinos e em alguns casos sem luz elétrica.

 1 Na madrugada do dia 28 de junho, a menos de 10 meses de sua “retirada unilateral”, o Estado de Israel lançou um brutal ataque militar com bombardeios e mísseis contra a Faixa de Gaza e o povo palestino. A operação, conhecida como “chuva de verão” começou com o cercamento por terra, ar e mar e a reinvasão do território palestino supostamente autônomo de Gaza, com cerca de 5.000 soldados e 100 tanques.

Em uma clara postura de “castigo coletivo”, as tropas israelenses destruíram a infra-estrutura civil, como pontes e a principal usina geradora de energia, deixando sem água e luz mais de meio milhão de palestinos, e com a colaboração da polícia egípcia deixaram a população impedida de sair da Faixa de Gaza, deixando-a virtualmente presa. Inclusive helicópteros carregados chegaram a sobrevoar a residência do presidente sírio Bashar al-Assad em Damasco, a quem Israel acusa de dar proteção ao dirigente político do Hamas, Khaled Mesha, exilado na Síria. Em um ato sem precedentes, o governo israelense de Ehud Olmert ordenou o seqüestro de cerca de um terço dos ministros do governo da Autoridade Palestina, dirigido pelo Hamas, entre eles o vice-primeiro-ministro, o ministro de Finanças e o ministro do Trabalho, além de 30 membros parlamentares e funcionários, lançando um ataque com mísseis contra a oficina do primeiro ministro Ismael Haniyeh. Ainda que Olmert, do partido Kadima, tenha ganhado as eleições falando em concluir a “retirada unilateral” na Cisjordânia e Amir Peretz trabalhista de “esquerda” e atual ministro da Defesa, se declarava a favor da “paz”, esta escalada militar volta a mostrar que o atual governo sionista não tem diferenças substanciais com os falcões do direitista Likud. Enquanto uma pequena minoria de pacifistas se mobilizou repudiando estes ataques, como vem fazendo contra a construção do muro de proteção, as distintas alas dos partidos que dominam a política israelense estão por manter o povo palestino subjugado.

 2 Esta selvagem agressão do Estado de Israel foi antecedida por uma ofensiva econômica e militar que recrudesceu durante o mês de junho. Dentre os principais ataques das tropas israelenses se contam: o assassinato de Jamal Abu Samhadana em 8 de junho, nomeado chefe da polícia palestina em Gaza pelo governo de Hamas; o ataque de mísseis contra uma praia de Gaza repleta de famílias palestinas, onde morreram 8 pessoas, sendo 5 delas crianças e mais de 30 feridos; o ataque de mísseis contra a população civil da cidade de Gaza em 13 de junho, no qual morreram 11 palestinos, 2 deles menores; os ataques aéreos regulares contra campos de refugiados como o de Jabalya e Khan Yunis. No total, segundo organismos de direitos humanos israelenses, 49 palestinos foram assassinados entre os dias 1 e 25 de junho pelas tropas sionistas e quase 4.000 desde setembro de 2000.

Como resposta a esta escalada, as milícias palestinas e a ala militar de Hamas deram por finalizado o cessar-fogo que mantiveram durante 18 meses. No dia 25 de junho, durante um ataque a um posto de controle do exército israelense, um grupo palestino tomou como prisioneiro o soldado Gilad Shalit. Em troca de sua liberdade, pediam pela liberação de 500 detidos -400 menores e 100 mulheres- entre os mais de 10.000 presos políticos palestinos.

 3 O Estado sionista usou a libertação do soldado Shalit como pretexto para desferir a atual agressão militar. Sem dúvida, a escalada das ações de guerra de Israel tem explicitado suas verdadeiras intenções: atacar o governo palestino de Hamas para gerar uma capitulação total desta organização ã ocupação israelense, chegando inclusive a promover sua queda.

Desde que o Hamas ganhou as eleições legislativas por uma margem ampla no dia 25 de janeiro deste ano - vitória devida ã bancarrota militar, política e moral da direção histórica palestina, Al Fatah, e suas versões de esquerda, FDLP, FPLP, etc -, Estados Unidos, a União Européia, os governos árabes, e o próprio presidente da Autoridade Palestina, o conciliador Mahmoud Abbas (Abu Mazen), vêm exercendo uma pressão insuportável sobre o governo palestino dirigido pelo Hamas, buscando o seu colapso.

Justamente o posto de primeiro-ministro foi imposto pelos Estados Unidos e o famoso “Quarteto” -que incluía a União Européia, a Rússia e as Nações Unidas- para marginalizar o então presidente Yasser Arafat, e permitir concentrar o poder nos líderes palestinos dispostos a aceitar o plano imperialista para a Palestina. Porém, o cálculo foi mal feito e devido ã sua política conciliadora com o Estado de Israel, Mahmoud Abbas perdeu as eleições. O triunfo do Hamas desmascarou a enorme hipocrisia do imperialismo norte-americano e europeu, que só favorecem a “democracia” como forma de legitimar os seus agentes internos e colaboradores, tais como o presidente Abbas do Al Fatah.

A primeira chantagem consistiu em suspender o financiamento internacional do qual depende em grande medida a subsistência do povo palestino, condenado por Israel a não dispor de seus recursos, forçado a trabalhar como mão-de-obra barata nas cidades israelenses. O Estado de Israel também suspendeu o pagamento dos impostos que é obrigado a passar ao governo palestino. Esta situação de boicote econômico levou praticamente ã paralisação da administração palestina, arriscando a fonte de subsistência de cerca de um milhão de pessoas: nos últimos cinco meses cerca de 150.000 funcionários da Autoridade Palestina não puderam receber regularmente seus salários.

Rapidamente trataram para que o controle das forças de segurança e a conformação de um futuro exército fossem patrimônio do poder executivo da Autoridade Palestina, nas mãos do Al Fatah, retirando esta atribuição do governo do Hamas.

Esta situação resultou em enfrentamentos entre o Al Fatah e o Hamas, aprofundando as divisões entre a ala política do Hamas -mais propícia a aceitar uma negociação- e a ala militar desta organização.

 4 O presidente Abbas, na tentativa de levar vantagem desta situação caótica pressionou o Hamas para aprovar um documento, elaborado por dirigentes palestinos presos em Israel, em que se aceita a construção de um semi-Estado palestino nos atuais territórios ocupados, reconhecendo implicitamente não só o Estado de Israel, como também as suas conquistas territoriais até a guerra dos seis dias de 1967; limitando a resistência contra Israel somente aos territórios ocupados, e chamando a conformação de um “governo de unidade nacional”, autorizando unicamente ã Organização pela Libertação da Palestina (OLP) e a Abbas a negociar

em nome de todo povo palestino. O governo do Hamas acabou aceitando e firmando este documento ante a ameaça de Abbas de convocar um referendo sobre o mesmo. Desta forma, a ala política do Hamas renunciou a uma das demandas fundacionais do movimento de libertação nacional palestino, seguindo o caminho de capitulação que antes tinha sido trilhado pela própria OLP, que sob a direção de Arafat acabou entregando nos acordos de Oslo a luta do povo palestino e seu legítimo direito ã autodeterminação nacional, aceitando a chamada “solução de dois Estados”.

 5 Sem dúvida, para o governo de Olmert isto não é o suficiente. Com a escalada militar dos últimos dias pretende arrancar maiores concessões, como por exemplo o reconhecimento explícito do Estado sionista por parte do Hamas e dos sectores mais radicalizados. Recorrendo mais uma vez ao método brutal dos exércitos de ocupação, o Estado sionista busca quebrar o espírito de resistência da população palestina por meio de fome, da falta d’água e de eletricidade, de ataques contra as cidades e zonas densamente povoadas como os campos de refugiados de Gaza, de assassinatos de dirigentes populares, mulheres e crianças, impedindo que os palestinos possam sequer trabalhar por um salário miserável em Israel. Seguem construindo o muro de separação ao redor das cidades palestinas, mostrando abertamente o seu caráter racista e colonialista, avançando com seu plano de anexar definitivamente ás fronteiras de Israel os territórios ocupados por assentamentos de colonos na Cisjordânia e em Jerusalém.

 6 A chamada “solução de dois Estados” demonstrou ser fatal para o povo palestino. Desde o estabelecimento dos acordos de Oslo em 1994, passando pelo chamado “mapa do caminho” até a “retirada unilateral” de Sharon e Olmert, sempre tiveram como premissa a renúncia do povo palestino a seus direitos democráticos fundamentais como o direito ao retorno dos milhares de refugiados palestinos, expulsados de suas terras pelo Estado sionista, bem como o direito a constituir seu próprio Estado no conjunto de seu território histórico. O suposto “Estado palestino” não significaria mais que uma série de cidades isoladas rodeadas pelo muro de segurança, sem continuidade territorial nem viabilidade econômica, sem a possibilidade de controlar suas fronteiras ou recursos escassos como a água. A evidente conclusão é que os direitos democráticos do povo palestino são incompatíveis com a existência do Estado sionista, um enclave racista e colonial, fundado em 1948 sobre a base da expulsão e a limpeza étnica da população árabe que habitava a Palestina. Como resultado de distintas guerras - como a chamada “guerra da independência” em 1949 ou a guerra dos seis dias em 1967-e de sua política de ocupação de territórios com colonos da extrema direita religiosa, vem estendendo suas fronteiras e incorporando cada vez mais porções dos chamados territórios ocupados. O Estado de Israel é um aliado incondicional dos Estados Unidos, que o tem financiado e armado com armamento nuclear, atuando como um agente dos interesses imperialistas contra os povos do Oriente Médio. Frente a esta realidade de opressão e a capitulação das direções nacionalistas burguesas históricas, como a OLP, fortaleceram-se as organizações islà¢micas radicais como o Hamas que defendem a resistência ã ocupação.

Como revolucionários defendemos os militantes da resistência palestina frente ao Estado sionista, e também o direito do povo palestino a constituir seu próprio governo, mas ressaltamos claramente que a estratégia das direções islà¢micas como o Hamas de transformar a Palestina em um Estado teocrático é totalmente reacionária. Esta estratégia não só liquida liberdades democráticas básicas como difunde também a ilusória idéia de uma “comunidade de crentes”, que oculta as obscenas divisões de classe das sociedades islà¢micas, sendo contrário a que a classe operária armados com uma política independente conduza as massas oprimidas da região ao enfrentamento com o imperialismo e seus governos locais. Frente a esta política que leva a luta pela libertação nacional a um beco sem saída, como marxistas revolucionários, estamos pela destruição do Estado sionista reacionário de Israel e o estabelecimento de uma Palestina operária e socialista onde possam conviver pacificamente árabes e judeus, na perspectiva de uma Federação Socialista do Oriente Médio, como única saída progressiva ã brutal opressão que sofrem as massas palestinas.

De imediato é imprescindível impulsionar a mais ampla unidade de ação em defesa do povo palestino. É necessária a mobilização operária e popular não apenas no Oriente Médio, como também em nível internacional, para repudiar e deter o ataque militar israelense.

04 de julho de 2006

Fração Trotskista pela Quarta Internacional
PTS (Partido de Trabajadores por el Socialismo) de Argentina,
LTS - CC (Liga de Trabajadores por el Socialismo- Contracorriente) de México,
LOR-CI (Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional) de Bolívia,
LER-QI (Liga Estratégia Revolucionária) de Brasil,
Clase contra Clase de Chile,
JIR (Juventud de Izquierda Revolucionaria) de Venezuela,
Clase Contra Clase del Estado Espanhol e
FT Europa.

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