Brasil
Greve dos trabalhadores da USP completa 80 dias
16/08/2014
Diana Assunção e Bruno Gilga são diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP (SINTUSP)
Hoje completamos 80 dias de greve. Na última semana os trabalhadores da USP realizaram uma manifestação histórica: retomando os métodos clássicos da classe trabalhadora, organizamos um piquete total fechando toda a cidade universitária. Esse piquete foi finalizado por um enorme ato em volta da universidade, dialogando com a população e gritando “não tem arrego!”.
Esta ação foi a resposta dos trabalhadores ao corte dos salários referentes aos dias em greve, atingindo milhares de trabalhadores. Neste mesmo dia, o governo do Estado de São Paulo, a polícia e a Secretaria de Segurança Pública foram obrigados a libertar Fábio Hideki, trabalhador da USP e membro do Comando de Greve, preso durante 45 dias acusado de ser Black Block, numa clara tentativa de criminalização dos movimentos sociais. A polícia demorou 45 dias para constatar que um pote de achocolatado não era um explosivo, saindo deste episódio bastante deslegitimada.
Agora a greve está em um impasse, com a Reitoria desmarcando a única reunião de negociação agendada – justamente para discutir o corte de salários – e anunciando abertamente que só irá negociar em setembro, apostando no desgaste do movimento. Também vazou um documento interno da Reitoria que contém um plano de contenção de gastos que inclui um plano de demissão voluntária (PDV) para reduzir o quadro de funcionários em 3 mil, flexibilização da jornada de trabalho, desvinculação dos Hospitais Universitários e fim da autonomia universitária.
Os trabalhadores, estudantes e professores da USP estão debatendo a necessidade de se organizar contra o que se desenha como um novo ataque a Universidade, que remete aos anos em que toda a comunidade universitária saiu ás ruas em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade. Nós lutamos por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, e frente ã crise financeira da universidade exigimos a abertura dos livros de contas da USP e mais verbas pra educação, pra que sejam atendidas nossas reivindicações salariais, de contratação de funcionários e efetivação de todos os terceirizados. Também lutamos para colocar fim a esta estrutura de poder que já se mostra falida, dissolvendo o cargo de Reitor e o Conselho Universitário, e impondo pela força da greve um governo tripartite com maioria estudantil a partir de uma Assembléia Estatuinte Livre e Soberana. Tomar nas mãos os rumos da universidade é também uma das formas dos trabalhadores não pagarem pela crise.
Na conjuntura atual em São Paulo, o desfecho dessa luta é decisivo pro conjunto dos trabalhadores, que acabaram de vir de uma derrota com as 42 demissões dos metroviários, e que podem nesta greve da USP e das universidades estaduais paulistas ter um ponto de apoio para as próximas lutas que virão já neste semestre com as campanhas salariais de várias categorias.
13/08/2014