Colômbia: um duro golpe ás FARC
O exército colombiano liberta Ingrid Betancourt
05/07/2008
Ao encerramento dessa edição se confirmava a libertação da ex-candidata presidencial, Ingrid Betancourt, junto a 3 contratistas norte-americanos e outros 11 reféns militares que se encontravam em poder das FARC. Segundo o ministro da Defesa, o Exército havia conseguido “infiltrar-se” no interios das frentes onde estavam os reféns que foram resgatados por militares colombianos, provavelmente com ajuda da inteligência e do governo norte-americano que saiu festejando a libertação dos reféns como um triunfo próprio, no mesmo dia no qual o candidato republicano McCain visitava a Colômbia.
Uma operação desse porte, não faz mais que revelar a profunda debilidade em que se encontra as FARC que vêm de uma série de duras derrotas no último período (ver LVO 279). À morte de seu histórico líder, Manuel Marulanda, e ao assassinato de vários de seus principais dirigentes, somou-se, nas últimas semanas, as declarações dos presidentes da Venezuela e do Equador contra as FARC. O discurso de Chávez, no qual chamava a organização guerrilheira ã deixar as armas “a troco de nada” e entregar todos os reféns de forma unilateral, não só significou um giro de 180 graus na política do governo venezuelano (que até então, pedia o reconhecimento das FARC como força beligerante), mas também acontece em uma das piores situações da guerrilha colombiana.
A libertação de ingrid Betancourt, depois de 6 anos de cativeiro, que ao chegar ao aeroporto militar de Bogotá reivindicou ao governo de Uribe e o papel das Forças Armadas, não siginifica mais do que um profundo enfraquecimento da capacidade de manobra e negociação das FARC que apresentavam a ex-candidata presidencial como sua principal carta de reaseguro no processo de uma hipotética troca humanitária.
Essa nova situação poderia gerar tensões no interior das prórpias FARC, sobretudo tendo em conta que o governo colombiano poderia manter a “colaboração” da França e da Suiça (em contraste com os antigos “mediadores”, Chávez e Piedad Córdoba) mas depois da libertação de Betancourt, colocando o eixo na desmobilização das FARC e reivindicando a política de “segurança democrática” que inclui a libertação militar dos reféns em mãos da guerrilha por uma troca humanitária. Esse é um novo golpe ás FARC que se soma ao assassinato de importantes dirigentes como Raúl Reyes e Iván Ríos, pelo exército colombiano, armado até os dentes pelos Estados Unidos no marco do Plano Colômbia, que vem travando uma verdadeira “guerra suicida” com métodos de terrorismo de Estado contra as FARC.
No fechamento dessa edição, Uribe realizava uma conferência com a imprensa cercado pelos reféns libertados e dos altos patentes militares, reivindicando o papel das Forças Armadas genocidas dando mostras de que pensa levar adiante a política que já havia “oferecido” ás FARC há algumas semanas, sintetizada na proposta: “Se não negociam, os exterminamos”.
No plano interno, o governo de Uribe saberá aproveitar a libertação de Betancourt para “inflar” ainda mais sua popularidade e fortalecer a figura presidencial no marco da crise institucional que vive o país. Uribe ganhou um pouco de oxigênio com o escândalo da para-política depois de extraditar vários dos principais chefes paramilitares para que sejam julgados no Estados Unidos. No entanto, a crise deu um novo salto nas últimas semanas quando a Corte Suprema de justiça (CSJ) anunciou que poderia invalidar as eleições de 2006 com as quais Uribe conseguiu a reforma constitucional que permitiu sua reeleição, por terem se mostrado completamente fraudulentas, depois que uma ex-congressista declarara que havia sido "coagida" para votar pela reforma. Frente a essa situação, que podia deixar o governo de Uribe por um fio, o presidente colombiano anunciou descaradamente um referendo para validar seu mandato apesar das acusações. Aproveitando sua popularidade em alta e os importantes triunfos táticos sobre as FARC, Uribe pretende fortalecer ao máximo sua figura enquanto o resto das insittuições ao seu redor desmoronam. É nesse sentido que os editoriais dos principais jornais chamaram a uma saída “consensual” para evitar a a degradação das instituições burguesas. Em última instância, a escalada na crise política não se trata mais que uma briga entre as camarilhas e máfias que estão emaranhadas no podre aparato estatal colombiano. Por este motivo, não é de surpreender que Uribe acuse a CSJ de estar infiltrada por "paras e guerrilheiros” pois seu próprio governo se ergueu sobre um acordo com narcotraficantes e paramilitares, que hoje podem gerar atrito depois da decisão de Uribe de extraditar para os Estados Unidos alguns dos principais chefes.
Os próximos dias serão chave para entender o impacto que terá a libertação de Betancourt e dos outros reféns tanto para o curso da crise política no seio das instituições burguesas, como para o caminho que seguirão as FARC diante do que se constitui como um verdadeiro revés para esta organização e uma verdadeira mostra de até onde vai a estratégia do reformismo armado que mantem há 4 décadas.
Traduzido por Beatriz Michel