Venezuela
Surge a Liga de Trabalhadores pelo Socialismo
16/06/2008
No sábado, dia 31/05, se realizou em Caracas a Primeira Conferencia Nacional da Juventud de Izquierda Revolucionaria - Fração Trotskista (JIR-FT). Nesta conferência, participaram trabalhadores das lutas fabris mais emblemáticas e destacadas que tem se desenvolvido no último período, como os trabalhadores da SIDOR, que acabam de obter um primeiro triunfo contra a transnacional Ternium (do grupo argentino Techint), e que arrancaram do governo Chávez sua nacionalização, companheiros da fábrica Sanitários Maracay, que há mais de um ano vêm lutando pela nacionalização da empresa e pelo controle operário, e que apesar dos golpes do governo nacional continuam em pé na luta. Também participaram companheiros da petroleira estatal PDVSA, operários da Universidade Central da Venezuela (UCV), trabalhadores da administração pública nacional e jovens estudantes da Universidade que se destacaram no enfrentamento ã reação e ao imperialismo como o golpe de abril de 2002 e a paralisação de sabotagem com uma política independente do chavismo.
A conferência teve como norte a conformação de uma nova liga revolucionária como parte da ofensiva pela construção de um forte partido operário revolucionário no país.
As discussões centrais giraram em torno da situação internacional - a atual crise econômica que sacode a principal potência mundial, os Estados Unidos, e seu processo de decadência, a situação política na Europa, em que se observam tendências ã direitização, ainda que não de forma homogênea; a luta de classes em vários países, constatando uma dinâmica de lutas da classe operária, ainda que majoritariamente como lutas econômicas e não como pólo político. Também se abordou a discussão sobre a situação nas regiões mais convulsionadas como Oriente Médio, em que se concentram as principais tensões mundiais.
A situação da América Latina ocupou um lugar destacado nos debates pelas novas tendências que tem emergido desde o começo do século, com processos revolucionários como na Bolívia, jornadas revolucionárias na Argentina ou as mesmo as mobilizações que derrotaram ao golpe pró-imperialista e todas as tentativas da reação interna na Venezuela, entre outras, e que depois, têm aberto espaço ao surgimento de todo tipo de governos, sejam do caráter nacionalista burguês como Chávez, ou do chamado “progressismo” na Argentina ou o próprio governo com características de frente popular de Evo Morales.
A conferência discutiu com profundidade a situação política nacional com base nas Teses Nacionais apresentadas, e que partem do processo político aberto no país desde o Caracazo até nossos dias. Discutiu o atual rumo do governo de Chávez e os sintomas de esgotamento político que começam a expressar-se, com também os elementos da crise de “autoridade” do mesmo frente ás massas exploradas que se evidenciou no resultado do referendum de 2/12/2007 depois de quase 10 anos de governo. Debateu-se sobre as novas lutas operárias que tem se desenvolvido e as que começam a emergir, transformando aos trabalhadores no setor mais dinâmico atualmente, como foi no caso de SIDOR; e os processos, ainda que pequenos, de experiência política com Chávez. Na conferência partimos da necessidade de reivindicar abertamente uma posição política de princípios, operária e socialista frente ao governo de Chávez, sustentando a necessidade de por de pé um partido operário revolucionário, independente do chavismo, sustentando que somente a classe operária, sob seu próprio programa e encabeçando o conjunto dos explorados, pode levar até o final a luta contra a burguesia e o imperialismo, pela libertação nacional e pelo socialismo.
Neste marco se abordou o debate das estratégias de diferentes organizações frente ao processo político atual, algumas correntes que, ainda que utilizando a linguagem do trotskismo, se soma ao projeto de Chávez, como é o caso de Marea Socialista (ligado ao MST argentino) integrante do PSUV. Outras que vem adotando uma política ziguezagueante frente ao chavismo como os impulsionadores da recém-criada Unidad de Izquierda Socialista (ligada a IS da Argentina), que se somaram ã campanha “pelos 10 milhões de votos” a favor de Chávez; e pequenos grupos como UST (ligado ao PSTU do Brasil), que apoiou nas presidenciais o voto em Chávez e depois chamou a votar pelo NÃO junto ã oposição burguesa no referendo da reforma constitucional e chegou ao descalabro de considerar progressiva as marchas da reação interna estudantil.
Nesse sentido, a Conferencia Nacional resolveu o lançamento de uma nova organização, que adotou o nome de Liga de Trabajadores por el Socialismo (Liga de Trabalhadores pelo Socialismo - LTS), expressando a fusão de trabalhadores de diversas tradições e experiências políticas com uma camada de jovens que nos últimos anos vem lutando com punhos cerrados por uma política independente da classe operária e dos setores explorados e oprimidos. Ao mesmo tempo se votou que a nova organização é parte integrante da Fração Trotskista - Quarta Internacional, pelo que se adotaram como próprias as elaborações teórico-políticas e programáticas que vem sustentando como organização internacional, resolvendo também manter a JIR como juventude da LTS.
A nascente LTS não se considera o partido revolucionário da Venezuela, mas sim uma liga marxista revolucionária que luta conseqüentemente por sua construção. Por isso, lutamos para forjar toda uma camada de trabalhadores e estudantes, como verdadeiros estrategistas da revolução, que saibam se ligar aos processos que estão se desenvolvendo no país, e nos mais agudos que virão, assentando as bases para a construção de um poderoso partido operário revolucionário, sustentando firmemente que somente um governo dos trabalhadores e do povo pobre, baseado nas organizações das massas e defendido pelas milícias dos trabalhadores, irá até o final na resolução dos graves problemas que atingem as massas exploradas da Venezuela e na luta pelo socialismo.
Traduzido por Felipe Lomonaco