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França: eleições municipais e o desgaste de Sarkozy

Importante eleição da “extrema esquerda”

13/03/2008

O primeiro turno das eleições municipais francesas mostra um claro desgaste de Sarkozy. Longe estamos da “onda azul” (representa as cores da UMP, partido oficial) que se deu nas eleições presidenciais e também para o legislativo do ano passado, conquistando a maioria absoluta do parlamento. Ainda que se deva esperar o segundo turno para avaliar a magnitude do retrocesso está claro que a presidência se debilitou mais rapidamente do que se pensava e que, de agora em diante, Sarkozy governará com maior oposição. No entanto, não afirmamos isto pelo crescimento do Partido Socialista, o principal beneficiário eleitoral do repúdio ao “sarkozysmo”. Este partido convertido ao social-liberalismo é totalmente incapaz de exercer um mínimo contra-poder ao bonapartismo de Sarkozy. Tanto é assim que após as eleições municipais Sarkozy continuará como árbitro do panorama político aproveitando o vazio institucional da oposição e seguirá avançando com seu plano de contra-reformas. Se sua presidência de agora em diante se arrisca a ser mais questionada, é pelo “voto castigo” de milhares de jovens trabalhadores que criticam o estilo do presidente e sofrem com a queda dos salários e do poder aquisitivo. De acordo com as pesquisas, esta intenção de castigar Sarkozy por meio do voto é mais forte entre os trabalhadores do que no resto dos eleitores.

Este sentimento que se acumula entre os trabalhadores - e que se manifesta em uma série de de greves por aumento salarial em setores até agora ausentes da luta como os grandes supermercados - é o que pode se fortalecer se o sarkozysmo continuar no mesmo caminho. Como disse um analista se referindo ao presidente: “Não tem alternativa e o sabe: não mudar de tom, de estilo e de método - ir contra sua própria natureza - poderia fazer os franceses passar de seu atual mal humor para um descontentamento muito mais reivindicativo e imprevisível” (Le Monde, 09/03).

Por sua vez, as eleições mostraram quase o desaparecimento da Frente Nacional de Le Pen, cujo eleitorado foi absorvido pela UMP. Seu papel de árbitro em comícios anteriores cumpre hoje o MoDem (Mouvement Démocrate) de François Bayrou, um partido de centro-direita. No entanto, as alianças de diversos tipos que tece este partido para o segundo turno o impedem de apresentar-se como uma força coerente e autônoma, diferentemente da campanha presidencial do ano passado, na qual se beneficiou por aparecer como terceira força do bipartidarismo reinante do regime da V República.

A surpresa mais importante ã esquerda do PS é a melhora do PCF, o bom resultado relativo dos Verdes e o crescimento local da Liga Comunista Revolucionária (LCR). O PCF conseguiu recuperar algumas municipalidades que perdeu e provavelmente conservará a maioria das que já possuía, mostrando que a força deste “comunismo municipal” ainda não desapareceu; o PCF construiu nos últimos setenta anos feudos em numerosas regiões, em particular nas periferias das grandes cidades. Por sua vez, tanto o crescimento do PCF quanto em menor medida o dos Verdes, pode reabrir a discussão no PS sobre não abandonar seus velhos aliados políticos, levando em consideração a debilidade do MoDem (Somente Segolène Royal, ex-candidata a presidência pelo PS, reiterou seu chamado para uma aliança com este partido, considerando que no segundo turno das eleições presidenciais prometeu o cargo de primeiro-ministro).

Por último, o que é mais significativo para os trabalhadores e a juventude é o avanço eleitoral da LCR. Segundo Françoise Sábado, um de seus dirigentes históricos, o resultado constitui “a melhor eleição da história da LCR”: das 200 candidaturas que apresentaram, 109 superaram 5% e 29 superaram 10%. Até agora obtiveram 71 conselheiros municipais, mais que o dobro das eleições anteriores, levando em consideração o caráter antidemocrático do sistema eleitoral francês. Este crescimento se deu fundamentalmente em cidades médias, na periferia de metrópoles regionais como Bordeaux, na banlieue de Rouen ou nas aglomerações em torno de Nantes. A LCR alcançou resultados inesperados nas grandes cidades, com mais de 5% dos votos em Toulouse, Lyon, Marseille, Tours, Poitiers, Limoges, Montpellier, Nancy e Amiens. Em cidades dirigidas pela esquerda institucional, onde as candidaturas da LCR eram as únicas competidoras pelas esquerda, houve uma média de 7% dos votos. Como demonstram esses dados foi um importante avanço eleitoral.

Aproveitando esse bom desenpenho, Olivier Besancenot chamou a formação dos “coletivos” ou “comitês de iniciativas” do novo partido anti-capitalista. Na edição anterior do LVO [1], criticamos esta orientação desde o angulo da estratégia revolucionária. Mais do que nunca é necessário que as expectativas que o avanço eleitoral que a LCR de Olivier Besancenot desperta não sejam uma vez mais defraudadas pelo surgimento de uma nova organização programaticamente ambígua e aberta ao reformismo, como foi o caso de outras tentativas com características similares no passado. É fundamental que os que nos reclamamos revolucionários tenhamos uma política para influenciar os jovens e os trabalhadores de vanguarda seduzidos por esse projeto para convence-los da necessidade de um verdadeiro partido revolucionário na França.

Traduzido por: Luís Siebel

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