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Conferência internacionalista em Paris (PARTE 1)

Debates para uma ofensiva da esquerda revolucionária na Europa

09/12/2015

Debates para uma ofensiva da esquerda revolucionária na Europa

Nos dias 5 e 6 de dezembro aconteceu em Paris uma conferência européia organizada pela Corrente Comunista Revolucionária (CCR) do NPA da França, o grupo Classe contra Classe (CcC) do Estado Espanhol e a Organização Revolucionária Internacionalista (RIO) da Alemanha. Entrevistamos Juan Chingo e Daniela Cobet da França, Santiago Lupe do Estado Espanhol e Stefan Schneider da Alemanha sobre os debates e conclusões desta importante reunião.

Quem participou da conferência do fim de semana passado e qual foi a temática?

Daniela Cobet: Participaram a maioria dos militantes das três organizações convocantes, o que implicou um grande esforço material, já que viajaram 25 companheiras e companheiros da Alemanha e 30 do Estado Espanhol, além de todos os que vieram das diferentes regiões da França. No total, quase 150 pessoas estiveram presentes na reunião, sem contar os observadores convidades do PCL da Italia e das correntes internas do NPA, Anticapitalismo e Revolução e Fraccion L’Etincelle. Os companheiros do OKDE Spartakos da Grécia infelizmente não puderam vir mas enviaram uma saudação calorosa a nossa reunião. As jornadas de debates foram traduzidas simultaneamente em espanhol, francês e alemão. Para nós é uma grande conquista política, mas também organizativa, já que as dificuldades normais que implicam esse tipo de reunião se somaram às condições excepcionais do estado de emergencia imposto pelo governo francês, controles estritos nas fronteiras, dificuldades para conseguir uma sala no contexto repressivo e massacrante de liberdade que vivemos atualmente. Por isso tudo estamos muito felizes de ter podido concretizar a reunião e debater acerca da situação econômica e política internacional no sábado e questões de orientação e construção no domingo.

O primeiro tema então foi a situação da economia mundial. A quais conclusões chegaram?

Juan Chingo: Sim, partimos do fato de que a crise atual chega ao seu 8º ano e que é muito importante ter uma visão sobre seu desenvolvimento, suas etapas e perspectivas para se orientar. A chave é que desde os últimos meses entramos na terceira fase da crise: a que afeta os chamados mercados emergentes como o Brasil, que talvez hoje com a combinação da maior queda econômica desde os anos 30, a ameaça de recessão e a crise política em curso como o caso do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, é o elo mais débil do capitalismo mundial.

A etapa atual da crise acaba com a fábula de que os mercados emergentes, segundo a qual os país de caráter semicolonial avançariam de forma linear a um estado emergente para posteriormente alcançar o nível dos grandes países capitalistas. Mais importante, essa nova etapa da crise está abrindo brechas na luta de classes como o caso das lutas operárias no Brasil e o magnífico movimento de estudantes secundaristas no estado de São Paulo, de mais de um mês de duração e que fez o governo de direita de Alckmin retroceder. Ou no “S” dos BRICS, ou seja a África do Sul, fortemente golpeada economicamente e onde se deu uma forte luta dos metalúrgicos que levou a sua ruptura com a central sindical burocrática (COSATU) e o extraordinário movimento estudantil sulafricano sobre o qual viemos escrevendo. O interessante de tudo isso é que os principais países da periferia capitalista que atuaram como contratendência à crise de 2007-2008 retornam aos ciclos de instabilidade que os caracterizam e isso vem dando lugar a forte movimentos da luta de classes.

As políticas de relocalização vão encontrar limites não apenas econômicos mas também cada vez mais na luta de classes e isso pode ajudar indiretamente a recomposição da classe operária em países centrais, que não vão ver no Sul proletários aceitando calados baixos salários mas que lutam, se rebelam e quiçá avançam à abertura de novos processos revolucionários. Nisso apostamos em especial em países como o Brasil e a Argentina, onde (sobretudo no segundo) as forças do trotskismo vem conquistando avanços na vanguarda que os elege como atores dos futuros combates de classe.

E sobre a situação política européia? Quais foram os principais eixos de discussão nesse ponto?

Santiago Lupe: Em primeiro lugar definimos que o continente está atravessado por crises múltiplas. Hoje por hoje a mais dinâmica é a crise geopolítica. A crise do Oriente Médio, provocada pela combinação da derrota das primaveras árabes e os efeitos das intervenções imperialistas dos últimos anos, chegaram à Europa em forma de crise migratória e fenômenos aberranete como o terrorismo ISIS. Esta situação fortalece em primeira instância as tendências xenófobas e de extrema direita. Por sua vez, o novo reformismo está em um claro retrocesso depois da captulação de Syriza na Grécia.

Hoje por hoje a crise de representação política que cutuca os distintos regimes nacionais se expressa essencialmente à direita. Na União Européia, ganham peso os projetos políticos de “retorno” ao estado nação e às fronteiras nacionais. É um marco reacionário com tendência à bonapartização, mas que ao mesmo tempo tem bases muito precárias.

Por um lado, a crise econômica e da UE seguem abertas e o cenário econômico internacional de que Juan falava agora mesmo, assim como a mesma crise geopolítica, são verdadeiras minas que podem voltar a posicionar a economia do continente e o próprio projeto da União Européia à beira do abismo. De outro lado, a classe trabalhadora e a juventude européia não foram derrotadas, mesmo com o papel combinado da burocracia sindical com as novas mediações reformistas para passivizar as tendências à luta de classes que vimos entre 2010 e 2012 na Grécia e no Estado Espanhol. Por isso a nova situação supõe por sua vez uma oportunidade para desnudar tanto o caráter reacionário da UE e seus governos, como a impotência do novo reformismo.

Esta dinâmica pode colocar em movimento as forças sociais necessárias para combater os efeitos da crise e a ofensiva imperialista e liberticida, facilitando as condições para construir uma forte esquerda revolucionária e dos trabalhadores em todo o continente.

Stefan Schneider: Teve muita importância na discussão a questão do endurecimento das políticas racistas e xenófobas contra imigrantes e refugiados. As políticas que vem aplicando os distintos governos vinham se aproximando cada vez mais das defendidas pelos partidos da extrema direita populista. Houve um novo salto dessa política depois dos atentados de Paris de 13N e a reação do governo Hollande.

O PS é o pineiro em assumir o discurso e a política da Frente Nacional. Um giro à direita que tampouco serviu para que ele se salvasse, como vimos neste fim de semana nas eleições regionais com a vitória da Frente Nacional de Marine Le Pen. Frente a essa ofensiva discutimos que a extrema esquerda tem que se colocar de cabeça na luta por um grande movimento que unifique a luta contra guerra, contra os cortes de direitos e de liberdades democráticas que está sendo levado adiante em nome da “luta contra o terrorismo” e pelos direitos dos imigrantes e trabalhadores. Os diferente governos buscam instalar uma grande divisão entre a classe operária nativa e os trabalhadores extrangeiros que já estão aqui ou vão chegar.

Este racismo pretender a base dos regimes mais duros que são os encarregados de fazer passar o ajuste que ainda falta. Contra essa divisão, só uma política que retome as bandeiras do internacionalismo proletário pode unir as fileiras da classe trabalhadora para lutarmos juntos, nativos e estrangeiros. Nesse terreno a esquerda reformista também mostra as caras: Syriza em acordo com ANEL é a polícia civil da fronteira leste da UE, o Front de Gauche votou com Hollande, Sarkozy e Le Pen a ampliação do estado de emergência e o Podemos elege como candidato estrela para as próximas eleições de 20 de dezembro no Estado espanhol um general que dirigiu a intervenção da OTAN na Líbia.

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