Brasil
Marina Silva é parte da “velha política”
05/09/2014
A burguesia busca utilizar as eleições para apagar a importância das manifestações de junho de 2013 e recompor a imagem dessa “democracia” dos ricos. Por trás da urna está o poder econômico, os milhões que financiam os candidatos, os luxuosos privilégios que sustentam a casta política. Uma máscara para continuar a explorar e oprimir a maioria do povo que sofre com as filas nos hospitais, a precariedade da educação, as enchentes todos os anos, a violência policial, os baixos salários. A demagogia de todos os principais candidatos capitalistas (Dilma Aécio, Marina) pretende esconder os planos de ajuste que implementarão para que sejam os trabalhadores quem pague a crise capitalista. Não podemos aceitar essa realidade. Aproveitemos o debate eleitoral para construir uma força política dos trabalhadores capaz de impor com a luta: Que todo político ganhe o mesmo que um professor! Que todos os cargos políticos sejam revogáveis a qualquer momento!
Marina Silva é parte da “velha política”
Por Fernando Pardal e Daniel Matos
Marina diz que vai “superar” a polarização entre PT e PSDB que domina o país há pelos menos duas décadas. O apelo desse discurso se confunde com a grande rejeição que se expressou em junho de 2013 ao regime político de conjunto, já que esses partidos são, ao lado do PMDB, os principais sustentadores dessa democracia dos ricos. Mas esse discurso não passa de uma jogada de marketing.
É impossível governar o país a serviço dos capitalistas sem se subordinar aos ditames do capital financeiro e se aliar com as oligarquias mais reacionárias, num sistema em que a corrupção não é mais que o óleo que ajuda a movimentar as engrenagens.
Alianças podres por trás da aparência do “novo”
Quando assumiu o ministério do meio ambiente no governo Lula, Marina se enfrentou com os movimentos sociais para abraçar a causa do agronegócio. Depois que saiu do PT, Marina se alia com expoentes intelectuais neoliberais e passa a ser financiada por grandes monopólios capitalistas como o Banco Itaú e a Natura para candidatar-se a presidente em 2010.
Hoje, uma de suas aliadas mais próximas é Neca Setúbal, herdeira do banco Itaú, que apenas no primeiro semestre desse ano lucrou R$ 7,1 bilhões, uma soma maior que a economia de 33 países somados. Parte dos monopólios que financiam sua campanha é a Friboi, maior frigorífico do mundo, que recentemente foi denunciada por dar carne infectada com larvas para seus funcionários comerem.
Uma política econômica para os ricos
O programa econômico atual de Marina é tão reacionário quando o do PSDB. Para ganhar a confiança do mercado financeiro, em alguns aspectos ela busca ser até mesmo mais realista que o rei, ou seja, mais reacionária que os petistas e tucanos. É o que vemos, por exemplo, na sua defesa da chamada “autonomia” do Banco Central consolidada em lei, que é uma forma dizer que os interesses dos bancos serão preservados haja o que houver (mesmo que a população tenha que amargar com aumento do desemprego e corte nos gastos sociais).
Marina é uma árdua defensora das privatizações, da retirada de direitos trabalhistas e de aumento da idade para as aposentadorias cada vez menores. Chegou a lançar dúvida sobre a manutenção dos investimentos da Petrobras no pré-sal, dizendo para agradar os usineiros desejosos de lucrar mais com o etanol que “precisamos sair da idade do petróleo”.
O que dá o tom da política econômica de Marina é o mais puro liberalismo, com a defesa de parcerias público-privadas que entregam os serviços básicos na mão de empresas que não terão, conforme garante a candidata, nenhum controle na margem de lucro que queiram obter nos seus negócios. Seu assessor Eduardo Gianetti já defendeu abertamente a cobrança de mensalidades nas universidades públicas. Este programa de Marina mostra quão distante está das “vozes de junho” que exigiram mais e melhores serviços públicos, o que só pode ser alcançado mexendo nos extraordinários lucros dos tubarões dos serviços e na corrupção que garante as concessões e privatizações (PPPs).
Uma “ecologista” parceira do agronegócio e do desmatamento
Mas não é apenas na política econômica que Marina representa a velha política: apesar de sua “demagogia ambiental”, ela pretende governar de mãos dadas com o agronegócio. Para recompor sua imagem junto a esse setor, ela reivindica com orgulho ter liderado a aprovação das licenças ambientais que mais impacto negativo tinham sobre a natureza. Após um jantar que a candidata realizou com 50 empresários ruralistas, estes disseram que estão surpresos com a forma receptiva que Marina recebe suas demandas. No jantar, Marina também afirmou que pretende implementar o Código (anti) Florestal, que destrói a mata atlà¢ntica e a floresta amazônica no país para favorecer os lucros capitalistas.
Contra os direitos dos LGBTTs e trabalhadores
Na questão dos direitos humanos Marina é o que há de mais conservador. Depois de tentar enganar os eleitores com um programa de direitos aos LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), Marina foi criticada no Twitter pelo pastor homofóbico Silas Malafaia e imediatamente retrocedeu, soltando uma “correção” do programa na qual afirma não defender nem sequer o direito de matrimônio igualitário para uniões homoafetivas. Retira esses pontos que, com toda as limitações e na pretensão de “dialogar com junho”, constava no programa de Eduardo Campos, mostrando como é uma candidata que prepara um governo capitalista mais neoliberal e reacionário no campo das liberdades civis e democráticas. Tudo ao contrário das “vozes de junho” e das necessidades dos trabalhadores e das massas exploradas e oprimidas.
Marina já declarou inúmeras vezes ser conta os direitos dos LGBTT, mostrando que para ela o Estado não deve ter absolutamente nada de laico, nem no que se refere a respeitar os direitos individuais mais básicos. Preocupada com os votos da comunidade evangélica (na verdade, obediente aos interesses reacionários de grandes “capitalistas da religião” como o pastor Silas Malafaia, que lucram milhões com as concessões de TV, Rádio, isenção de impostos e negociatas com os governos), Marina se coloca até mesmo contra o direito ao aborto e contra criminalização da homofobia, depois de ter defendido ninguém menos que o racista e homofóbico Marcos Feliciano. Isso é um exemplo cabal de que por trás da demagogia “marinista” esconde-se a “velha política”: a mentira, a enganação, a demagogia para garantir os negócios e interesses dos capitalistas e dos reacionários.