Besancenot renuncia a ser candidato do NPA nas presidenciais 2012
O problema não é o porta-voz, mas a orientação e o tipo de partido que queremos construir
23/04/2011
por Corrente Comunista Revolucionária - Plataforma 4 do NPA [1]
17/05/2011
Argumentos de esquerda que não questionam a política e orientação oportunista da atual maioria do NPA
Em sua carta de renúncia, Olivier Besancenot disse que nunca quis ser “o eterno candidato da extrema esquerda” e adverte sobre “os riscos da personalização extrema” dos líderes políticos e sobre “a dinâmica consensual que impõe a competência eleitoral e midiática repetida”. Estes argumentos de esquerda sobre um dos riscos que coloca o terreno eleitoral, um dos âmbitos políticos mais desfavoráveis para os revolucionários, totalmente dominado pela burguesia, seja através do próprio sistema eleitoral ou do controle dos meios de comunicação de massas, não questionam a orientação oportunista em que a direção atual encaminha o partido.
É que o problema não é o porta-voz, mas a estratégia e o tipo de partido que construímos. A lacuna entre a popularidade de Besancenot e do NPA não é só um resultado da ação da mídia, mas a de uma construção política deliberadamente baseada em ocupar espaços políticos vazios (seja eleitorais, sindicais, etc.) e não em uma construção orgânica no seio dos trabalhadores e da juventude explorada e oprimida.
A ausência de uma clara delimitação programática e de classe nos princípios fundadores do partido, só pode dar lugar a uma grande heterogeneidade E a orientações políticas diversas e muitas vezes opostas, tanto no terreno eleitoral, sindical como na luta de classes. Isto foi demonstrado em diferentes ocasiões, em várias eleições depois da fundação do NPA, na orientação que levam adiante os militantes nos sindicatos em que intervêm, ou na falta de objetivos e de um programa de ações comuns no recente movimento contra a reforma das aposentadorias.
Todas estas características fazem que o partido tenha pouca identidade para além do próprio Besancenot e sua popularidade. Mais grave ainda, estas ambigüidades tem impedido que, na medida do possível, o NPA represente uma alternativa aos milhares de trabalhadores e jovens que queriam ir para além da política de conciliação de classes da burocracia no poderoso movimento do outono passado. Estas ambigüidades também são um obstáculo para que surjam novas camadas de dirigentes e quadros revolucionários, formados na “escola de guerra” das lutas, das greves contra o estado burguês, a patronal e a burocracia. Estas lutas representam o laço ou as tarefas preparatórias entre a luta cotidiana e a luta pelo poder. A direção do NPA articula esta relação ao redor de um pragmatismo oportunista e, no melhor dos casos, com uma pseudo fraseologia revolucionária.
É assim que Besancenot em sua carta embeleze a situação e o papel jogado pelo partido, quando diz: “Isto significa que aqui e agora, chamamos, sem descanso e conscientemente, a todas as pessoas anônimas a apropriarem-se de seu destino… Por isso chamamos sistematicamente ás classes populares a irromper na cena política rompendo as muralhas levantadas pelos políticos com o objetivo de mantermos a distância da arena, aonde se jogam nossas vidas. Nos locais onde intervimos, levamos esta mensagem original e subversiva: nos bairros populares, nas empresas, nos institutos, nas faculdades, nos mercados, nas manifestações, durante as eleições. Esta mensagem que é a marca de fábrica do nosso partido, não devemos manchá-la em nome de nenhum ‘reflexo’ eleitoral” . Em certo sentido este é o discurso do NPA que atrai a setores contestadores dos trabalhadores e da juventude e sobre o que se baseia a popularidade de Besancenot em esses setores. No entanto, é preciso dizer que hoje esse discurso não é levado adiante realmente por uma prática e uma orientação conseqüentes que é a única que pode transformar esta popularidade e esta simpatia em uma força militante ativa e ganhar para o partido e para as idéias revolucionárias.
O NPA diante de uma encruzilhada
Por seu peso político, Besancenot fez até agora um papel, cada vez mais difícil, de unificador do conjunto do partido. Sua decisão de não ser candidato em 2012 pode aprofundar e acelerar as delimitações internas no seio do partido. Por sua vez, pode fortalecer internamente aqueles que buscam um acordo político com a Frente de Esquerda, uma posição que se consolidou depois da última reunião do CPN (Comitê Político Nacional). É suficiente para ver como no mesmo dia em que nos interamos pela imprensa da renúncia de Besancenot ã sua candidatura, Léonce Aguirre (membro da direção do NPA da Plataforma 3) firmava um chamado no Le Monde “Por uma candidatura da esquerda da transformação social e ecológica em 2012”, junto a outras figuras da “outra esquerda” como Clémentine Autain ou Christophe Aguiton.
Frente a esta alternativa estratégica, oposta pelo vértice a uma política de independência de classe e que se mantém claramente dentro do marcos do regime democrático burguês, as queixas e os distintos chamados formulados pelos companheiros da Plataforma 2 são totalmente impotentes. Em sua moção, a Plataforma 2 defende: “pedimos a Oliver que reconsidere a sua decisão com o fim de permitir ao partido discutir isto coletivamente”. Ainda que seus fundamentos questionando a decisão de Besancenot são válidos, ao afirmar que: “a razão por qual a decisão de apresentar-se ou não ã eleição presidencial não pode ser uma decisão unicamente pessoal que informe ao partido sobre o feito consumado”, assinalam uma das características intrínsecas do NPA: ser um partido em que são fundamentalmente seu porta-voz e seu círculo aqueles quem decidem quase tudo, por fora das instâncias democráticas do próprio partido.
Mas esse tipo de funcionamento não é algo novo. Salvando as distâncias, é bastante análogo a forma em que funcionava a socialdemocracia alemã com sua fração parlamentar e sua fração sindical no início do século XX. Este método foi corrompendo progressivamente a este grande partido operário, levando-lhe a uma adaptação ao regime democrático burguês, no que culminou na traição aberta no começo da Primeira Guerra Mundial.
O NPA não tem ainda deputados, em grande medida, devido ao antidemocrático sistema eleitoral francês que nega representação proporcional. Mas o método de funcionamento de suas figuras públicas (assim como de membros da direção cujas propostas são liberadas sistematicamente pela imprensa) é bastante similar ao da velha socialdemocracia. Lamentavelmente, Besancenot não critica este aspecto da “personalização”, talvez o mais grave, já que converte a maioria dos militantes em sujeitos passivos, ao contrário do que ele propõe como modelo de sociedade,
Besancenot não discute nada disto. Talvez porque isso o levaria a ter que debater estrategicamente que tipo de partido queremos construir. Isto tem a ver, para nós, com sua leitura errônea da burocratização da ex URSS e da degeneração do partido bolchevique. Por isso, em uma entrevista concedida depois de sua renúncia, declara a respeito dos processos revolucionários árabes: “Vi, quando fui a Tunísia e ao Egito, que as revoluções não necessitavam nem líder, nem substituto, nem vanguarda auto proclamada. Que o povo irrompe na cena política e que justamente é por isso que nós militamos. E nós, aqui agora, devemos fazer isso ã nossa escala” (Médiapart).
Contrariamente ao que afirma Besancenot, não se necessitam revolucionários para que as massa irrompam violentamente na cena histórica. Como dizia Trotsky, em seu famoso prólogo da História da Revolução Russa: “O traço característico mais indiscutível das revoluções é a intervenção direta das massas nos acontecimentos históricos. Em tempos normais, o Estado, seja monárquico ou democrático, está por cima da nação; a história corre a cargo dos especialistas deste ofício: os monarcas, os ministros, os burocratas, os parlamentares, os jornalistas. Mas nos momentos decisivos, quando a ordem estabelecida se faz insuportável para as massas, essas rompem as barreiras que as separam da palestra política, derrubam os seus representantes tradicionais e, com sua intervenção, criam um ponto de partida, para o novo regime”. Os revolucionários são necessários para que toda essa energia revolucionária não se disperse em combates isolados e para poder canalizá-la até a tomada do poder. Isto é precisamente o que não se pôde fazer por enquanto nem na Tunísia nem no Egito. Porque para isto se necessita um partido claramente revolucionário, que construa previamente. Os companheiros da CCR Plataforma 4 lutam por esta perspectiva, a única capaz de evitar uma nova decepção e um novo fracasso para o NPA.
NOTASADICIONALES
[1] A Corrente Comunista Revolucionária (CCR) foi fundada em abril de 2011. Está integrada por militantes que provêm de diversas tradições, entre elas, militantes da ex LCR, de grupos da extrema esquerda francesa, da Fração Trotskista – Quarta Internacional. A CCR é parte da Plataforma 4 do Novo Partido Anticapitalista, constituída nas vésperas do Primeiro Congresso do NPA para defender uma estratégia e uma orientação revolucionárias. Podem-se ler seus materiais em: www.ccr4.org.