GREVE DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS PAULISTAS
Os trabalhadores da USP, Unesp e Unicamp podem vencer
30/07/2014
Por Bruno Gilga, trabalhador da FFLCH e representante dos trabalhadores no Conselho Universitário, Pablito Santos, diretor do Sintusp e trabalhador do Restaurante da Física
Mesmo com todo o cerco da mídia contra a nossa greve durante a Copa do Mundo, mesmo com as férias, e mesmo com a tentativa dos Reitores de dividirem nossa greve propondo reajustes específicos Unesp e Unicamp: a greve chega em agosto no mesmo ritmo e com a mesma força que se iniciou há mais de 60 dias! A tática de desgaste da Reitoria falhou! A divisão de tarefas entre Governador e Reitores não pode mais se sustentar com o início da campanha pré-eleitoral e a tentativa do governador Geraldo Alckmin se reeleger. É questão de vida ou morte para a Reitoria impedir que a greve dos trabalhadores entre no mês de agosto e interfira no prosseguimento do ano letivo.
Assombrada com a força da greve e a possibilidade dela se unificar com os estudantes, a Reitoria lança medidas de desespero. Por meio de um ofício da Coordenadoria de Administração Geral (CODAGE) a Reitoria orienta os Diretores de unidades a registrar na folha de ponto dos trabalhadores em greve dizendo que este “não trabalhou”, em uma clara tentativa ilegal [1] de intimidação. No dia seguinte, a Reitoria encaminhou via e-mail liminar da justiça que concedia o uso de força policial para desobstruir piquetes organizados pelos trabalhadores para garantir o direito de greve. Diante dessa tentativa da Reitoria de testar a correlação de forças para modificá-la a seu favor, a resposta dos trabalhadores foi dura: Não tem arrego! A partir das lições da vitória dos garis do Rio de Janeiro os trabalhadores da USP sabem que a única forma de evitar o corte de pontos, barrar as ofensivas da justiça e conquistar nossas reivindicações é manter a correlação de forças ao nosso favor, e isso passa por avançar sobre a Reitoria e não retroceder na primeira ameaça.
É inadmissível que o mesmo Reitor e Diretores de unidades que estão envolvidos no escândalo dos super-salários [2] ameacem milhares de famílias de trabalhadores com a possibilidade de ficarem sem salário e sem comida! Não bastasse o congelamento de contratações e o zero por cento (0%) de reajuste salarial, a tentativa de desvincular o Hospital Universitário da USP pela via da precarização do serviço para aprofundar sua privatização, os cortes de bolsas, as sobrecargas de trabalho e a negativa de negociar com o movimento, a Reitoria agora ameaça colocar a polícia militar (PM) novamente no campus. O governador de São Paulo sustenta essa política de cortes, ajustes e repressão como parte do seu projeto de educação. Enquanto declara na justiça eleitoral um patrimônio de mais de um milhão de reais e busca abafar o escândalo de corrupção em que está envolvido pela via do metrô e das empresas ALSTOM, Siemens e outras [3] Alckmin e o PSDB se negam a aumentar o repasse de verba para a educação pública, diminuem verbas para a saúde aprofundando as parcerias com Organizações Sociais (OSs) [4] e mantêm preso por mais de 40 dias o trabalhador da USP, do Centro Saúde Escola Butantã (CSEB) Fábio Hideki.
Infelizmente não é só a Reitoria da USP e o governo de São Paulo (PSDB) que estão buscando derrotar a greve. Enquanto estes mantêm a linha de intransigência e repressão contra o movimento, a Reitoria da Unicamp conta com o apoio da maioria do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (PCdoB) na sua tentativa de dividir as categorias. O PCdoB por duas vezes consecutivas defendeu em assembleia que era o momento de cada universidade negociar diretamente com seu próprio Reitor, o que significa isolar os trabalhadores da USP e avançar na quebra da política de reajustes unificados (isonomia). Surpreendente na última assembleia da Unicamp foi o PSTU ter defendido essa mesma proposta do PCdoB de desmantelamento da greve, enquanto na USP são parte do Comando de Greve e dizem defender a manutenção da greve unificada... questionamos qual é a real orientação do PSTU para a vitória da greve das universidades estaduais?!
Estamos vendo na USP se misturar o novo ativismo operário nacional, com os métodos combativos e a tradição de democracia operária do Sintusp, que ajuda a desenvolver em cada unidade o papel de sujeito de todo o trabalhador, que possui um Comando de Greve no qual a Diretoria do Sindicato se dilui e que é composto por delegados eleitos em cada unidade e uma assembleia de microfone aberto.
É necessário, mais do que nunca, cercar de solidariedade a nossa greve a partir de entidades sindicais e estudantis, em especial da CSP-Conlutas. Nas próximas semanas temos a grande tarefa de resistir e aprofundar a greve dos trabalhadores combinando as medidas de radicalização necessárias com um forte diálogo com a população, que começa por demonstrar que a Reitoria e seu Conselho Universitário atuam como um verdadeiro “balcão de negócios do governo e da burguesia”, que asseguram lucros milionários ás empresas terceirizadas e fundações de ensino privado e querem avançar na privatização da universidade ao contrário do que os trabalhadores vêm lutando há anos: uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre. É por isso que quanto mais a Reitoria tentar se esconder atrás da suposta crise financeira da USP, mas devemos exigir a abertura imediata dos livros de contabilidade e mais verbas para toda a educação pública.
Os trabalhadores da USP e das universidades estaduais paulistas, junto aos professores e estudantes em greve não somente podem vencer como podem começar a apontar que são estes três setores da universidade, que a faz funcionar, os que podem também governá-la através de um governo tripartite com maioria estudantil e a partir de uma Estatuinte Livre e Soberana contra o governo daqueles que arrocham salários, privatizam e precarizam o trabalho e o ensino. Nós da LER-QI lutamos por esta perspectiva atuando junto ao Movimento Nossa Classe, com dezenas de trabalhadores nas reuniões de unidade, assembleias e Comando de Greve.
NOTASADICIONALES
[1] Veja declaração do Juiz do Trabalho, Jorge Luiz Souto Maior sobre o direito de greve http://jorgesoutomaior.blogspot.com.br/2014/07/sobre-um-atentado-ao-direito-de-greve-e.html
[2] No início desse ano o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo rejeitou as contas da USP alegando que mais de 160 professores, a maioria ligada ao Conselho Universitário e ás Diretorias (incluindo a atual Reitor, Zago, e o antigo, Rodas) possuíam em 2011 salários maiores do que o do Governador do Estado de São Paulo.
[3] Inclusive, o ex-Prefeito do câmpus da capital da USP e membro do Conselho Universitário, Sidney Rocha, foi afastado do cargo por envolvimento em esquema de corrupção entre a ALSTOM e a Empresa Paulista de Transmissão de Energia (EPTE), enquanto era seu presidente.
[4] As Organizações Sociais são empresas privadas que administram verbas públicas.