Chile
"Somos a juventude que vai por tudo"
17/12/2011
200 JOVENS FUNDAM A AGRUPAÇÃO COMBATIVA REVOLUCIONáRIA
Por Marcelo Torres
Essa é a idéia que ficou marcada na fundação da Agrupação Combativa Revolucionária, numa jornada intensa durante os dias 19 e 20 de novembro. Estiveram presentes jovens de cinco estados do Chile e de dezenas de universidades, colégios e locais de trabalho, para fundar a ACR, que surge com 200 jovens operários e estudantes, combativa e revolucionária, numa fusão da juventude trotskista do PTR com independentes.
A jornada esteve marcada pela reflexão sobre as lições do processo e o intercâmbio de experiências protagonizadas pelos que ali estavam presentes, entre as quais se destacaram a do Colégio A90, que segue ocupado e autogestionado por estudantes, pais e professores num questionamento profundo ã educação pinochetista em todas as suas expressões (veja artigo no último JPO sobre essa experiência), o enfrentamento com a burocracia estudantil do PC que teve como expressão mais avançada a USACH e os enormes combates travados pelo movimento estudantil de Antofagasta, a partir, sobretudo, do papel que vem cumprindo os estudantes da UCN, que vem se forjando como um dos setores mais combativos do país. São parte orgânica do que houve de mais avançado no convulsionado movimento estudantil chileno e que deram, junto aos diversos outros combates que travamos na Universidade do Chile, principalmente a partir da referência que é a Faculdade de Filosofia e Humanidades, na juventude trabalhadora dos colégios técnicos, nas fábricas para organizar a juventude operária, e em diversos outros colégios e universidades do país. Por isso, este 1° Encontro Nacional esteve marcado pelas experiências vivas deste processo e pela conclusão da necessidade urgente de colocar de pé uma agrupação com uma estratégia para vencer.
Debatemos que a ACR surge em um contexto em que o primeiro round da guerra que a juventude chilena abriu contra o governo de Piñera e o regime pinochetista está terminando numa tentativa de acordo espúrio entre a direita e a Concertação combinado com uma grande repressão aos setores que querem seguir lutando. Circulam novamente pelas ruas do Chile os secundaristas e universitários, mas dessa vez para ir ás aulas, sendo somente algumas ocupações mais resistentes as que se mantém. Querem dar a essa luta o mesmo fim de 2006, quando votaram algumas mudanças cosméticas para não mudar nada, mas não vão conseguir. Dessa vez, o processo deixa marcas muito mais profundas. Refletimos que apesar de que, do ponto de vista das conquistas materiais, a intransigência do governo e o papel nefasto das direções nos impuseram migalhas se consideramos a fortaleza que demonstrou o movimento estudantil, não somente ferimos gravemente o governo e o regime, mas também, e isso é o mais importante, somos milhares e milhares de jovens que em todo o país tiraram a lição de que chegamos a essa situação devido ao papel traidor do Partido Comunista e a subordinação dos coletivos populares que não apresentaram nenhuma alternativa. Por isso, uma lição que permeou todo o encontro foi a necessidade de construir uma Agrupação Combativa Revolucionária com centenas de jovens em todo o país, que possa ser uma alternativa real contra a burocracia estudantil e sindical na luta não somente pela educação gratuita e contra todas as heranças do regime pinochetista, mas desde uma perspectiva claramente revolucionária e anti-capitalista. É isso que expressa a idéia de que "Somos a juventude que vai por tudo" e que nos preparamos para o segundo round, mas desta vez para superar a burocracia estudantil e derrotar o inimigo. Foi isso que se expressou nos cantos que ressoaram em todo o encontro.
Como não poderia deixar de ser, na fundação de uma agrupação de jovens revolucionários, a reflexão sobre os desafios que estão colocados a nível mundial com a crise capitalista, a importância do internacionalismo e a necessidade de preparar-se estrategicamente marcou a jornada. A presença de Franco Villalba, dirigente da juventude do PTS e membro da comissão interna da ex-Jabón Federal, contando sua experiência como parte do sindicalismo de base na Argentina, e os motivos que nos leva como revolucionários a impulsionar um sindicalismo classista e combativo, junto aos vídeos de saudação internacionalista que foram passados no encontro, entre os quais os estudantes e trabalhadores em luta da USP contaram sua experiência, com as imagens da repressão que estão sofrendo, e a saudação de Marcelo Torres, dirigente da LER-QI presente no Chile que falou sobre a influencia do Chile no Brasil (ver box nessa mesma página), ajudaram a ligar a discussão sobre as tarefas nacionais e internacionais da juventude e a importância do internacionalismo para uma organização com uma estratégia para vencer, partindo de que a luta de classes voltou a cena política de forma cada vez mais intensa mas, assim como no Chile, os movimentos ainda não tem conseguido sair vitoriosos. O plenário cantou: "Somos a juventude internacionalista, da classe operária e socialista, que está se levantando em todas partes, contra a burocracia e as patronais", expressando a compreensão de que o sangue que corre nas veias dos jovens da ACR é o mesmo da juventude egípcia que está lutando contra os militares e atacou a embaixada de Israel, dos palestinos que enfrentam com pedras o exército fascista de Israel, dos gregos que também precisam passar por cima do PC para enfrentar-se com a polícia e tentar ocupar o parlamento.
Outra marca do encontro foi o questionamento a todo tipo de conservadorismo nas relações pessoais, debatendo a necessidade da superação dos padrões de relações da sociedade burguesa, o individualismo e a monogamia, na luta pela libertação sexual da juventude e do enfrentamento a todo tipo de opressão machista e homofóbica.
O encontro votou tarefas fundamentais para fortalecer a construção dessa alternativa. Como parte da resposta e da luta pela educação gratuita agora, discutimos a necessidade de reagrupar os setores que querem seguir lutando, impulsionando encontros de delegados em cada universidade e colégio para fortalecer a relação da vanguarda mais decidida com os milhares e milhares que participavam das marchas e que agora estão voltando as aulas. Votamos impulsionar uma grande campanha contra a repressão, a partir de uma profunda discussão que envolveu inclusive um convidado do principal organismo de direitos humanos que defende os estudantes em luta, partindo de impulsionar um ato contra a homenagem que fascistas fizeram a Krasnoff, um dos principais assassinos da ditadura, e de uma grande campanha pelo juízo e castigo aos assassinos de Manuel Gutierrez. Votamos também fazer uma grande campanha em defesa do A90, tanto para defender esse exemplo, quanto para propagandeá-lo para que outros setores impulsionem a mesma perspectiva, que seguramente teria aberto um caminho distinto na luta se uma rede de colégios tivesse sido autogestionado. E votamos elaborar um Manifesto fundacional da Agrupação Combativa Revolucionária que seja divulgado em todo o país com dezenas de milhares de cópias, fazendo uma ofensiva não somente entre estudantes, mas na juventude operária, nas fábricas e locais de trabalho. Essas foram algumas das diversas resoluções votadas que serão levadas adiante a partir de agora.
"Vamos, vamos, vamos combativos, vamos pela revolução, com os ossos do último burocrata, varreremos a herança de Pinochet e Bachelet!", cantavam os jovens a plenos pulmões marcando a perspectiva combativa e revolucionária que vai levar adiante a ACR.
A luta do Chile e a luta da USP
"Acabou o amor, isso aqui vai virar o Chile"
Marcelo Torres, dirigente da LER-QI presente no Chile, contou sobre o processo de luta da USP, emocionando todos os presentes ao expressar a influencia do processo chileno no Brasil, que vai desde os cantos, a iniciativa de encapuzar-se para evitar a repressão do estado e da reitoria e o fato de ter aberto nacionalmente o debate, que tomou os meios de comunicação de massa por alguns dias, se o movimento estudantil da USP tem ou não a ver com o chileno. Explicou como faziam uma campanha reacionária dizendo que uma coisa não tinha nada a ver com a outra, porque o movimento estudantil chileno estaria lutando por demandas justas e o da USP seria composto por uma "minoria radical", de "privilegiados", que só querem poder fumar maconha e estar por fora da lei. Como quem está vivendo não somente o processo chileno, mas que conhece a batalha que está se dando na USP, desmascarou como isso não passa de uma campanha reacionária que visa isolar o movimento estudantil da USP do conjunto da população para avançar na repressão na universidade mantendo a presença da polícia e a perseguição aos lutadores.
22-11-2011