Oriente Médio
Um novo crime do estado sionista
05/06/2010
Em 31 de maio as forças armadas israelenses abriram fogo contra uma embarcação internacional composta por nove barcos nos quais viajavam cerca de 800 ativistas e reconhecidas personalidades solidárias com o povo palestino, que tentava entregar uma carga de cerca de 10.000 toneladas de ajuda humanitária ã Faixa de Gaza, e assim quebrar o brutal bloqueio aéreo, terrestre e marítimo imposto pelo Estado de Israel e Egito desde 2007 com o apoio explícito dos EUA e da União Européia.
A frota humanitária, organizada pelo movimento Free Gaza e uma OBG turca, foi interceptada por unidades de elite do exército sionista enquanto navegava por águas internacionais, a cerca de 60 km da costa israelense. Até o momento, se fala de um saldo de entre 15 e 20 ativistas mortos e um número não determinado de feridos. O governo ultra-direitista de Netanyahu-Lieberman já havia anunciado que não iria permitir a chegada a Gaza da embarcação humanitária, ã qual considerou uma “provocação política” contra Israel, e há vários dias vem planejando o operativo militar.
Como quando bombardeou a população civil palestina, como quando assassina “extra-judicialmente” a ativistas e dirigentes da resistência nacional palestina, ou quando reprime a população árabe israelense, o estado terrorista de Israel pretende cobrir seus crimes com atos de “defesa própria”. Em uma conferência de imprensa, funcionários de governo israelense, entre eles o ministro de defesa do Partido Trabalhista, Ehud Barak, justificaram o massacre dizendo que os soldados só atuaram em defesa própria e acusaram os tripulantes de apoiar “organizações terroristas” como o Hamas e a Al Qaeda.
Não é a primeira vez que Israel assassina ativistas solidários com o povo palestino. Um dos barcos da frota levava o nome de Rachel Corrie, uma jovem norte-americana do movimento International Solidarity, que morreu atropelada quando resistia ao lado da população local contra a demolição de uma casa de uma família palestina, na cidade de Rafah na Faixa de Gaza. Desta vez, Israel quis fazer uma demonstração de força para evitar que se multipliquem as ações de solidariedade com a população de Gaza. Entretanto, sua resposta gerou um repúdio estendido entre amplos setores de massas e deixou mais isolado o governo direitista de Netanyahu.
Crise diplomática
O incidente ameaça desatar uma crise de proporções entre Israel e o governo da Turquia, um dos apoiadores da frota humanitária, cujos barcos levavam a bandeira turca. Durante anos, a Turquia foi um aliado chave de Israel no mundo muçulmano, e mantinha desde 1996 um tratado de cooperação militar. A Turquia havia atuado como mediador para reiniciar o diálogo entre a Síria e Israel, em conflito pelas ocupações das colinas de Golà. Porém, estas relações vêm se deteriorando desde a última ofensiva militar israelense em Gaza, em finais de 2008.
Após a ascensão de Netanyahu como primeiro-ministro, baseado em uma coalizão entre o Likud e a extrema direita israelense, a tensão não parou de aumentar. Por sua vez, a política do primeiro-ministro turco, R. Erdogan, é recompor as relações com outros países árabes e muçulmanos, entre eles, Irã e Síria, como mostra o acordo nuclear firmado pela Turquia e o Brasil com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que alivia a pressão internacional que os EUA vinham exercendo para conseguir impor as sanções contra a República Islà¢mica do Irã.
O ataque militar contra a frota humanitária desatou a ira de milhares de turcos que saíram ás ruas de Istambul e cercaram a embaixada. Os reacionários governos árabes que começando pelo Egito e pela corrupta Autoridade Nacional Palestina, estabelecida na Cisjordânia, vieram sustentando a política de avanço imperialista e do estado sionista contra o povo palestino, se viram obrigados a repudiar a resposta militar israelense contra a chamada “Frota da Liberdade”, tratando de evitar que a indignação das populações locais se transformasse em mobilização ativa não só contra Israel e os EUA, mas contra os próprios regimes pró-imperialistas.
Os crimes de Israel e a hipocrisia imperialista
Desde 2007 o estado de Israel mantém a população de Gaza sitiada. Com o aval do imperialismo norte-americano, as potências européias, os governos árabes e do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, o estado sionista junto ao Egito decidiu fechar pelo céu, mar e terra as fronteiras da Faixa de Gaza, e assim forçar a queda do governo legítimo do Hamas, que havia ganhado as eleições gerais em 2006.
Com o bloqueio, Israel transformou a Faixa de Gaza, uma pequena porção de território onde vivem cerca de 1,5 milhões de palestinos, em uma verdadeira prisão a céu aberto. As conseqüências desta política criminosa de “castigo coletivo” foram devastadoras. Segundo as estatísticas das Nações Unidas, cerca de 70% da população de Gaza vive com menos de um dólar diário, enquanto 75% dependem da ajuda humanitária para sobreviver e cerca de 60% não tem acesso ã água potável.
Ao bloqueio se somam os efeitos do último massacre israelense contra Gaza em 2008-2009, durante a qual o exército israelense bombardeou sistematicamente a população civil, e destruiu um centro de refugiados das Nações Unidas, além de escolas, hospitais, e os edifícios do governo de Hamas.
Ante a magnitude do ataque no qual podem ter morrido cidadãos europeus, e as mobilizações de repúdio que começaram a ser realizadas, vários governos da UE, como a França e a Alemanha, pediram explicações ao governo israelense sobre o ocorrido, e também ás Nações Unidas. Por sua vez, o governo de Obama se limitou a “lamentar as mortes”. No marco da crise aberta, Netanyahu cancelou a visita a Washington e a reunião com Obama em que supostamente se avançaria em um “plano de paz” para o Oriente Médio. Com Obama, o estado de Israel segue sendo um aliado incondicional do imperialismo norte-americano, que justifica toda a ação criminosa israelense como “legítima defesa” frente ao perigo “terrorista” e que inclusive veta qualquer condenação internacional contra Israel.
A suposta proposta de “paz” dos Estados Unidos para o Oriente Médio é isolar o Hamas e fechar uma negociação com a direção pró-imperialista da OLP, que é presidido pela Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia. Este acordo implicaria a anexação ao estado de Israel dos assentamentos dos colonos, mais uma zona de “segurança”, a renúncia ao direito de retorno da população palestina expulsa de suas terras durante a fundação do estado de Israel e a aceitação de uma ficção de estado sem unidade territorial e sob a custódia do exército israelense.
Porém, a coalizão direitista que governa Israel não está disposta sequer a esta negociação, e segue impulsionando uma política agressiva de extensão das colônias em territórios palestinos. Isso já causou uma crise diplomática com o governo de Obama depois de que Israel fez uma desfeita ao próprio vice-presidente Joe Biden, durante sua visita quando o governo sionista anunciou a construção de novos assentamentos na zona árabe de Jerusalém. Além disso, pressiona o governo de Obama através do poderoso lobby sionista norte-americano, para que defina uma política mais agressiva contra o regime iraniano, ao qual vê como uma ameaça direta para sua segurança. Mas nem estas tensões nem qualquer declaração formal colocarão em questão a aliança estratégica entre o imperialismo norte-americano e o estado de Israel, que historicamente atuou em defesa dos interesses imperialistas contra os povos da região.
Milhares em todo o mundo saíram ás ruas para repudiar este novo crime do estado sionista. É necessário redobrar a mobilização internacional em solidariedade ativa com o povo palestino. Contra as hipócritas declarações das potências imperialistas ou das Nações Unidas que justificaram a violência do estado terrorista de Israel, enquanto condenam a resistência palestina contra seus opressores, a mobilização é o caminho para que desta vez, diferentemente da guerra do Líbano ou das inumeráveis ofensivas militares nos territórios ocupados, os aberrantes crimes de estado de Israel não fiquem impunes.
Por uma Palestina operária e socialista
Desde a sua fundação em 1948 sobre a base da expropriação e a expulsão da população árabe originária, o Estado de Israel levou adiante uma política colonial e expansionista. Além disso, os territórios anexados após a Guerra dos Seis Dias e outras ofensivas militares, o estado sionista teve uma política de colonização com a qual incorpora cada vez mais o território a suas futuras fronteiras, protegidas por uma muralha de concreto.
A suposta solução de “dois estados” defendida pelo imperialismo, os governos árabes e a Autoridade Nacional Palestina é profundamente reacionária. O suposto estado palestino não é mais que um conjunto de cidades isoladas, circundadas pelo “muro do apartheid”, sem unidade territorial e custodiadas por soldados israelenses que controlam a entrada e a saída dos territórios.
A direção nacionalista burguesa da OLP traiu abertamente a luta do povo palestino. O atual titular da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas é um agente a mais da política israelense e imperialista. Ante esta traição da direção histórica palestina, se fortaleceram as direções islà¢micas, principalmente o Hamas, que ganhou as eleições de 2006 e que se mantém no governo da Faixa de Gaza depois da tentativa falida das milícias da Al Fatah de derrotá-lo. Ainda que os revolucionários defendamos estas organizações frente aos ataques do imperialismo e do estado sionista, combatemos sua estratégia reacionária de estabelecer um estado islà¢mico.
A existência do Estado de Israel, um enclave colonialista e racista a serviço dos interesses imperialistas no Oriente Médio, é incompatível com os direitos nacionais do povo palestino. Os revolucionários nos pronunciamos pelo fim do Estado terrorista de Israel e defendemos o direito elementar do povo palestino a sua auto-determinação nacional, e a ter seu próprio estado, um estado laico, e não racista, em todo o território palestino. Mas esta legítima aspiração nacional só será realizável no marco de uma Palestina operária e socialista, onde possam conviver em paz árabes e judeus. É necessário lutar pela unidade revolucionária da classe operária e das massas oprimidas da região, para enfrentar o imperialismo e os reacionários governos árabes pró-imperialistas, na perspectiva da revolução operária e na luta por uma Federação Socialista do Oriente Médio.