RIO DE JANEIRO
Anos após anos o Rio de Janeiro sofre com o caos capitalista
17/12/2013
Mais de seis mil desabrigados, três mortos, escombros e sofrimento para os atingidos em todo o Rio de Janeiro, e ainda não são as chuvas de verão. Enquanto isso o prefeito Paes faz demagogia, Cabral vai ã praia de helicóptero e os vereadores iniciam férias. Não foi só a chuva. Uma casta de políticos governa contra os trabalhadores e o povo pobre, se enriquecendo e favorecendo os negócios dos capitalistas sem atender as necessidades populares.
As chuvas da última semana no Rio de janeiro evidenciaram que o Rio está longe de ser uma cidade estruturada, todo verão milhares perdem seus pertences e até vidas, enquanto isso o governo se "prepara" para receber a Copa do Mundo, e as Olimpíadas. A cidade se balança num precário equilíbrio, funcionando sempre no limite do colapso.
Na ultima terça-feira, vários pontos da cidade ficaram completamente alagados, E o prefeito Eduardo Paes ainda tem a cara-de-pau de soltar uma declaração dizendo que "A cidade está funcionando normalmente", caindo no absurdo e se distanciando da realidade e, logicamente, sem assumir suas respectivas responsabilidades. Muito longe do declarado pelo prefeito, a cidade não estava funcionando normalmente, a não ser que esteja sendo sincero em assumir que o caos urbano é a "normalidade". Grandes áreas alagadas impediram o (a)normal trânsito de veículos e do transporte público. Muitos dos trabalhadores não conseguiram chegar nos seus locais de trabalho. Isto também afetou o comércio, onde muitas lojas não abriram no dia 11 de dezembro. Isto é revoltante para uma cidade que sediará parte da Copa do Mundo e os jogos olímpicos. Mas é exatamente nestas contradições que podemos começar a entender esse absurdos, pois o governo gastou bilhões na reforma do Maracanã que esteve alagado na manhã do dia 11, e outros tantos com a vinda do Papa, mais outros bilhões com as obras para estruturação da cidade para sediar os mega eventos.
O sistema de transporte foi completamente superado pela força da realidade. Uma cidade que não tem orientado seus investimentos em infraestrutura urbana e melhoramento da mobilidade urbana para atender as necessidades dos trabalhadores e sim para fortalecer certa conectividade na cidade que facilite e favoreça a continuidade da reprodução do capital, principalmente na forma da especulação imobiliária e investimentos com mega eventos da Copa e das Olimpíadas.
A rede viária da cidade foi completamente desarticulada pelo alagamento de amplas áreas do Rio. A emblemática Praça da Bandeira, a avenida Brasil, a Linha Amarela e a recentemente inaugurada Binária do Porto na zona portuária, entre muitas outras, ficaram completamente alagadas, deixando o Rio em colapso, fazendo com que muitos trabalhadores que operam as linhas de ônibus não conseguissem chegar nas garagens. O que também fez com que os demais trabalhadores que utilizam o transporte coletivo também não conseguissem chegar ao trabalho.
Essa questão, da chuva e do colapso urbano, coloca a luta do transporte para o funcionamento normal da cidade. Se o transporte para, os trabalhadores do transporte param, então o Rio de Janeiro também vai parar. Por isso a centralidade da questão do transporte é de vital importância. Não é a toa que foi por reivindicações relacionadas ao transporte que as ruas das principais cidades do Brasil encheram de jovens e trabalhadores em junho. Mas as mudanças estruturais nos sistemas de transporte coletivo por um transporte público verdadeiramente estatal, a serviço e sob controle dos trabalhadores e usuários ainda não foram nem de perto atendidas. E após os acontecimentos desta quarta-feira não restam dúvidas sobre a urgência de uma mudança radical no transporte. Trem, metrô e rodoviários, os três sistemas de transporte, não responderam ã dura realidade imposta pelo descaso dos governantes. Fruto das chuvas e deste descaso, estações de metrô e trem ficaram alagadas, a Supervia teve que fechar dois dos seus ramais na madrugada da quarta feira.Os mesmos trabalhadores que em dias normais são transportados precariamente, passando horas em engarrafamentos em transportes públicos lotados, tiveram as portas das estações de metrô na linha 2 da Pavuna a colégio e os ramais de trem de Saracuruna e Belford Roxo fechados. Sem ter nenhuma alternativa de transporte viários devido a interdição das principais vias.
Todos os anos essas "tragédias naturais" acontecem, como desculpas para que a culpa não seja de ninguém, quando na verdade são parte fundamental das tragédias (verdadeiros crimes) sociais, pois vários canais foram fechado para que as obras da cidade sigam, assim como a Binária foi aberta para uso sem terminar as obras de drenagem, mesmo sabendo que isso implica em problemas graves nos períodos de chuva. A questão da moradia é um problema central, pois desde a escravidão os negros e trabalhadores moram nas piores áreas da cidade, sem o direito a moradia e saneamento decentes.
Dentro do município do Rio de Janeiro as áreas mais afetadas foram Irajá, Acari, Jardim América, Guadalupe, Anchieta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Pavuna, Manguinhos, Vila da Penha, Fazenda Botafogo, Cordovil e Complexo do Alemão. Mas a catástrofe tem a sua pior cara nos municípios e bairros da Baixada Fluminense, como Queimados e Nova Iguaçu. Nada nos bairros mais abastados da cidade. Ninguém ficou sem moradia em Ipanema ou Leblon. O temporal no Rio evidenciou que a catástrofe não é culpa só da natureza. A cidade é governada pelos e para os ricos, por isso dificilmente sofrem as consequências das "causas naturais". Os trabalhadores e o povo pobre sofrem, realmente, com os crimes sociais que esses governantes preparam com seu descaso. Embora tenha chovido intensamente em quase toda a cidade, o mapa da tragédia é o oposto do mapa da especulação imobiliária. Provando que seria possível evitar tais tragédias se todos os bairros tivessem o mesmo investimento em infraestrutura e serviços sociais.
A precariedade das habitações auto construídas e a carência de políticas habitacionais efetivas passaram a conta para os trabalhadores e moradores dos municípios da Baixada Fluminense. Só em Nova Iguaçu os desalojados por causa do temporal superam as duas mil pessoas, e segundo os dados oficiais já são seis mil na cidade e três mortos, o que significa que é muito mais.
A classe trabalhadora dos subúrbios, no mais absoluto esquecimento, não aguentou mais e espontaneamente houve várias manifestações. No município de Queimados moradores indignados, com piquetes, conseguiram fechar a rodovia Dutra em sua totalidade por várias horas. ao mesmo tempo em que na mesma estrada, em Nova Iguaçu, moradores fecharam quase em sua totalidade ambos sentidos da rodovia. Houveram manifestações também entre Pavuna e Anchieta com corte da Estrada Rio do Pau que liga os dois bairros.
Se bem o Rio tem sofrido historicamente de enchentes produto das chuvas esta tragédia tem um elemento diferente. A mudança no cenário político do Brasil, produto das manifestações que explodiram em junho e as que o seguiram, iniciaram um processo de reconstrução da classe trabalhadora e isso ficou claro na quarta-feira. Junho mudou o Brasil, mudou o Rio e a classe trabalhadora começa já se perceber como sujeito do seu próprio destino.
É preciso levantar uma campanha operária e popular, para se solidarizar com os milhares de desabrigados, para garantir o atendimento aos atingidos e organizar a luta pelas suas reivindicações, pois nada podemos esperar desses governos, já que todo verão é o mesmo discurso, Os sindicatos dirigidos pelo PSOL e PSTU, como Comerciários de Nova Iguaçu e SEPE, devem dirigir a organização dessa campanha de solidariedade operária e popular, exigindo dos demais sindicatos e organizações populares e estudantis que encampem essa ação independente dos governos e políticos patronais - os verdadeiros criminosos responsáveis pela catástrofe social.
Por um plano de obras públicas controlado pelos sindicatos e organizações de moradores que resolva o déficit habitacional! Por moradias dignas a toda a população pobre!
Pelo confisco dos quartos dos hotéis desta região turística e imóveis vazios dos especuladores imobiliários para garantir decentes e higiênicas condições de moradia a tantos desabrigados! Pela imediata utilização dos prédios públicos e privados desocupados, para fins de abrigo e das necessidades da população!
Pelo confisco dos estoques de supermercados, grandes redes de farmácia e todos outros produtos de necessidade imediata! Por sua distribuição racional segundo planos coordenados pelos moradores, sindicatos e voluntários!
O governo tem dinheiro para obras da Copa, helicóptero do governador e outros desperdícios. Pagamento de um salário mínimo do Dieese (R$ 2.800) a cada família desabrigada. Destinação de moradias desocupadas para instalar os desabrigados.
Por um transporte 100% estatal, sob controle dos trabalhadores e usuários!
Responsabilização e punição do governador, prefeitos e secretários pelo crime social contra os trabalhadores e o povo pobre.