FRENTE DE ESQUERDA - FIT
Viagem internacionalista de Christian Castillo pela Europa
10/02/2014
Escrito no dia 9 de janeiro de 2014
Durante o mês de janeiro Christian Castillo estará visitando vários países da Europa para conhecer em primeira mão a situação do movimento operário e da esquerda num dos epicentros da crise capitalista. Além disso, esta viagem política tem como objetivo difundir a experiência da esquerda revolucionária na Argentina, tanto o trabalho político do PTS na classe operária e na juventude como a intervenção na FIT [Frente de Izquierda de los Trabajadores – frente eleitoral e política que reúne o PTS, o PO e a Izquierda Socialista que obteve em outubro mais de 1,2 milhão de votos e elegeu vários parlamentares], em particular a utilização revolucionária dos postos parlamentares para desenvolver a luta dos explorados, tarefa que está estreitamente ligada ã batalha pela construção de um partido de combate, assentado na luta de classes.
O exemplo da FIT como frente de independência de classe, com um programa anti-imperialista, anticapitalista e socialista é muito importante na Europa diante da crise dos projetos de partidos amplos, sem delimitação estratégica entre reformistas e revolucionários, adotados pelas principais correntes da esquerda europeia. Nesta entrevista ao LVO [La Verdad Obrera, jornal semanal do PTS] apresentamos as primeiras atividades realizadas em Barcelona e Londres.
Em quais atividades participou em Londres?
Depois de estar em Barcelona com nossos camaradas de Clase contra Clase [organização integrante da Fração Trotskista – FT – no Estado Espanhol] e os trabalhadores da histórica greve da Panrico [produz o Donuts, e outros produtos], vim para Londres convidado por companheiros da esquerda britânica para duas palestras sobre a situação da Argentina, a eleição da FIT e a política do PTS e da FT, uma em Lambeth, no sul de Londres, e outra no centro da cidade. Houve muito interesse dos participantes em saber qual era nossa explicação para os resultados obtidos pela FIT, qual papel nos propúnhamos desempenhar a partir do parlamento como deputados revolucionários e o que propõe agora o PTS como novos desafios.
Explicamos que o resultado eleitoral foi uma combinação de processos objetivos, no marco do fim de ciclo kirchnerista, o começo da ruptura de setores da classe trabalhadora com o governo, que já havia se expressado na paralisação nacional de 20 de novembro de 2012 e uma politização ã esquerda em camadas da juventude, com a existência de uma esquerda que se manteve independente do governo e de todas as variantes patronais, e que conquistou importantes posições no movimento de massas. Assinalamos que para nós os resultados obtidos pela FIT nos impõem a tarefa de lutar pela conquista dos sindicatos, para coloca-los a serviço da luta de classes, e avançar na construção de um grande partido revolucionário da classe trabalhadora.
Também, junto com Claudia Cinatti, mantivemos reuniões de intercâmbio com dirigentes dos partidos da esquerda local, como Peter Taafle, do Socialist Party e sua organização internacional, a CWI [CIO], Alex Callinicos, do SWP [Socialist Workers Party], e Dave Stockton, do Workers Power, todos muito interessados na situação argentina e na FIT, assim como discussões a partir do que propusemos no Manifesto por uma Internacional da Revolução Socialista que impulsionamos como FT.
Como viu a situação da esquerda na Argentina?
O movimento operário vem sofrendo golpes importantes, igual ao conjunto da Europa. A burocracia sindical tem assumido um papel importante ao permitir que passem os ataques do governo e ao evitar que a resistência ocorrida em 2010 e 2011, principalmente no setor público, trabalhadores estatais e estudantes, assumisse um nível superior. A esquerda local, frequentemente adaptada aos setores de “esquerda” da burocracia sindical não foi alternativa nestes processos.
A crise mais importante é a que atinge o Socialist Workers Party, que sofreu perda muito importante de seus membros. Até o momento o que predomina entre aqueles que romperam com o SWP são posições de crítica ao “leninismo”, que identificam erroneamente com o regime interno burocrático de sua organização. Na realidade, o SWP está pagando o preço da combinação entre uma política de adaptação a vários fenômenos políticos, como sua aliança eleitoral em base a um programa reformista e sem defender a independência de classe com George Galloway e setores não esquerdistas da comunidade muçulmana, na coalizão Respect, e um regime interno hipercentralista, um coquetel explosivo que no meu entender explica a crise para além de seu detonante concreto, uma denúncia de abuso [sexual] de um membro de sua direção que se transformou num fato público e foi utilizado pela imprensa para desprestigiar a esquerda em seu conjunto.
Daí que a experiência que estamos realizando na Argentina seja uma referência para quem procure dar uma resposta revolucionária a esta crise, enfrentando diferentes projetos reformistas como o que vem impulsionando a direção majoritária da Left Unity [Unidade de Esquerda], a nova coalizão que, por fora do Labour Party [Partido Trabalhista] – que é um completamente aburguesado, mas que continua sendo sustentado econômica e politicamente pelos sindicatos –, o cineasta Ken Loach vem promovendo e onde participam diversos setores da esquerda local. Enquanto os setores mais reformistas apresentam o Syriza como modelo a imitar, a experiência da FIT e nossos avanços no movimento operário mostram que a esquerda não tem que rebaixar seu programa para avançar em sua influência política e sindical entre os trabalhadores e a juventude, exatamente o contrário.
Como seguirá a viagem?
Agora vou para Berlim, onde estarei numa palestra organizada por nossos companheiros do RIO [grupo político alemão, integrante da FT] e outras organizações da esquerda local, e para participar na mobilização que se realiza todos os anos em homenagem a Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Depois continuou com palestras programadas em Toulouse, Barcelona, Madrid, Atenas e Paris, assim como reuniões com dirigentes e militantes da esquerda de cada país.
CHRISTIAN CASTILLO NO ESTADO ESPANHOL
Ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras na luta da Panrico
Os companheiros de Clase contra Clase [CcC], grupo espanhol da FT, organizaram com os trabalhadores e trabalhadoras em luta da Panrico uma ceia de fim de ano, para a qual Christian Castillo foi convidado e levou seu apoio a partir da Argentina. Ali os companheiros contaram que já se passaram quase 100 dias de luta, a greve mais longa da democracia na Catalunha, e que é uma grande escola na qual estão aprendendo a potência que podem ser, enfrentando as manobras do sindicato e buscando solidariedade. Agradeceram o apoio recebido de CcC por estar desde o primeiro minuto nos piquetes e em cada ação. Christian Castillo lhes deu seu apoio, afirmando: “...Nós, que acompanhamos a luta dos trabalhadores em todo o mundo, vimos refletindo sobre o conflito da Panrico em nosso jornal La Verdad Obrera. Como em todo conflito da classe trabalhadora, sabemos que se coloca a possibilidade de recomposição não apenas dos companheiros que estão lutando, mas também de atuar como exemplo (...) Em nosso país participamos ativamente da luta sindical e junto com isso estamos tratando de construir uma alternativa política da classe operária (...) obtivemos 1,2 milhão de votos, três deputados nacionais e vários deputados estaduais (...) Fomos convidado por companheiros de vários países da Europa para conversar com trabalhadores e organizações de esquerda e propor a necessidade da reconstrução da classe operária e de uma ação internacional política para poder enterrar este sistema capitalista. Por isso, uma grande saudação para vocês. Viva a luta internacional da classe operária!”
Depois, o deputado pelo estado de Buenos Aires participou no piquete da fábrica Panrico, no dia 31/12, solidarizando-se com os trabalhadores e contribuindo financeiramente com o Fundo de Greve para esta grande e histórica greve.