BRASIL E EUA
Espionagem e leilões: dependência e subordinação ao imperialismo
01/10/2013
Nas últimas semanas, chamou a atenção da população brasileira a espionagem do governo norte-americano, através de sua Agência Nacional de Inteligência (NSA), aos e-mails da presidente Dilma e da Petrobras. Dilma, em conversa e acordo com Obama, cancelou temporariamente a viagem, mas deixando explícito que os acordos bilaterais fundamentais serão mantidos. Se em seu discurso de abertura da Conferencia da ONU, Dilma disse que a “ espionagem viola os direitos humanos” [1] , essas rusgas com os EUA de maneira alguma tratam-se de qualquer atitude “soberana” de defesa dos interesses nacionais, já que os negócios – o que interessa de verdade - com os grandes capitalistas estadunidenses continuaram de vento em popa, ou seja, lucros exorbitantes, saque via dívida pública, concessões e privatizações diretas que favorecem os grandes monopólios, e a descarada entrega dos interesses nacionais em questões estratégicas como energia, petróleo, telecomunicações, incluindo a rede de internet e a vigilà¢ncia por satélite que está nas mãos das empresas dos EUA e outros países imperialistas [2] . Como diz Dilma no próprio discurso, a relação atual do Brasil com o EUA sob o governo petista trata-se de “governos e sociedades amigos, que buscam consolidar uma parceria efetivamente estratégica” [3].
Não nos estranha a atitude norte-americana. A história das grandes potências imperialistas, como é o caso dos Estados Unidos, é a história da pilhagem e do controle. Buscam, em todo o planeta, explorar e lucrar em cima dos países mais pobres para manter seu domínio, custe o que custar. Basta lembrar de toda articulação e participação da “democracia” norte-americana na preparação dos golpes e nas ditaduras na América Latina. Com a crise econômica, necessitam maximizar os lucros e defender seus interesses pelo mundo, ao lado de “democratas” ou ditadores, como vemos no mundo árabe. Os que trazem ã tona tudo isso, correm risco de vida. É o caso de Edward Snowden e Julian Assange. Os Wikileaks desnudaram com documentos o que muita gente já sabia: um país que busca controlar milimetricamente seus interesses ao redor do planeta. Chelsea Manning [4] , que revelou documentos sobre as torturas e crimes de guerra norte-americanos no Iraque e Afeganistão, acaba de ser condenada a 35 anos de prisão pelo governo Obama. No mês de outubro ocorrerão os leilões das reservas de petróleo do campo de Libra, na cidade de Santos-SP. As maiores reservas já conhecidas de nossa história serão entregues ás principais potências, em compartilhamento com a Petrobrás. EUA, França, Espanha e China disputam através de suas transnacionais os leilões. A espionagem de Obama aos e-mails de Dilma e da Petrobrás se dão nesse contexto. Se é verdade que não vivemos um momento político de guerras militares abertas entre as principais potências, se intensifica a disputa entre suas áreas de influência. Mesmo com o avanço do gás e do petróleo de xisto nos EUA, somado a todas as dúvidas ainda presentes em relação ao pré-sal, questões que levaram ã diminuição da quantidade de petroleiras disputando o leilào, China e EUA olham com atenção as reservas brasileiras.
Os tímidos gestos de “autonomia” não escondem a subordinação A tentativa de vender a suspensão da visita de Dilma a Obama como um importante gesto de soberania nacional cai por terra quando verificamos que durantes os dez primeiros anos do governo petista foram remetidos R$ 4,5 bilhões de reais para o estrangeiro através de lucros e dividendos que o capital imperialista extrai de seus investimentos nas empresas e na especulação financeira. Das 500 maiores empresas do país, 191 são controladas por capitais estrangeiros. O Brasil petista cumpriu o papel de fazer o serviço sujo do imperialismo assumindo a linha de frente da ocupação militar do Haiti. Lula e Dilma cumpriram um papel político essencial na administração das crises envolvendo as posições conquistadas pelos EUA na América do Sul.
Repudiamos energicamente a espionagem, mas também todo o controle norte-americano sobre nosso território e riquezas. É a norte-americana McKinsey quem ainda faz estudos estratégicos para o BNDES. Na ANP (Agência Nacional de Petróleo), o Banco de Dados é administrado pela Halliburton através da Landmark Solution. As petroleiras norte-americanas e de outros imperialismos, assim como empresas como a Raytheon, diariamente manipulam nossos satélites e sistemas de telecomunicações. Toda essa submissão do pais aos interesses imperialistas não caiu do céu, foi resultado de décadas de entreguismo das riquezas e interesses estratégicos nacionais intensificados pelos governos FHC. Com a chegada de Lula, Dilma e o PT ao governo, tudo continuou como antes, e a entrega segue abertamente.
Devemos lutar para que os sindicatos assumam para si a tarefa de combater todo e qualquer traço de dependência e subordinação em relação ao imperialismo, com um projeto claro para que nosso país rompa com todos os laços e tratados de submissão econômica, política e militar. Uma das tarefas mais imediatas que temos nessa batalha é barrar os leilões do petróleo do campo de Libra em Santos, lutando por uma Petrobrás 100% estatal sob controle dos trabalhadores, impedindo o roubo de nossas riquezas pelos imperialismos, e resgatando as reservas que já são exploradas por suas multinacionais: só assim será possível garantir realmente que nossa riqueza possa garantir mudanças estruturais na saúde e educação. A proposta de Dilma e dos sindicatos governistas em relação aos royalties do petróleo servem para referendar a entrega de nossas riquezas aos imperialistas e nos deixam migalhas.
Essa tarefa deve se combinar com a luta pela taxação progressiva dos lucros e dividendos expatriados pelo capital imperialista e o não pagamento da dívida pública para colocar esses recursos a serviço de financiar as necessidades da população, na perspectiva de lutar pela nacionalização de todos os bancos e a expropriação das grandes multinacionais para colocar a estrutura fundamental da indústria e dos serviços no país voltada a atender as necessidades da população e não a sede de lucro dos imperialistas e seus agentes nacionais.
[1] http://www1.folha.uol.com.br/mundo/...
[2] http://www1.folha.uol.com.br/fsp/br...
[3] idem nota 1
[4] Chelsea Manning era da inteligência do exército norte-americano. Antes de se assumir como transexual, seu nome era Bradley Manning.